sexta-feira, novembro 23

YouTube - Chico Cesar A primeira Vista By Jean Lopes e Olindo este

Dor de Mãe - por Madalena Gouvêa Lemos

Dor de Mãe



Ai como dói uma dor de Mãe!


Dói pior que uma flecha espetada em seu coração!

Queria estripá-la,

Mas a dor insiste,

Pois dor de Mãe é muito mais profunda!

Ai como dói uma dor de Mãe!

Mas a ela tudo perdoa!

Mas dói, meu Deus!

A dor que mais tenho sentido, neste momento!

Quero não sofrer,

Mas sofro minha Mãe!

Dor de Mãe é muito profunda!

Pior que cair dentro de um fosso sem luz!

Como sofro Mãe , pela dor de ser Mãe também!

Queria-te aqui carnalmente,

Mas me contento com o seu espírito

Perto de mim!

Quantas mais provações meu Deus ,terei que passar,

Por este Planeta azulzinho!?

Quando uma Mãe sofre,

Faço sofrer os corações das outras Mães,

E isso não quero meu Pai!

Tira-me a dor Senhor!

Tira a dor de meus filhos!

Quero sim Senhor, aprender sempre mais como Mãe,

Pois nasci menina,

Depois Mulher,

E, a seguir Mãe.

Senti-me plena a tê-los!

Nem uma lágrima Viste-me escorrer,

Na hora que os pari!

Mas esta dor ,

De sentir a dor de um filho,

Não quero Senhor!

Guarda-nos Senhor,

Para que a provação termine.


Protege meus filhos que ao Mundo gerei!

E ao Mundo os lancei!

Madalena Gouvêa Lemos

(Impossível navegar) Felipe Henrique · Mesquita (RJ)











(Impossível navegar)






A perturbarem a






Mente como navega






O ar a espuma






Desse corpo mar






Tão longe e perto






No peito a dor








Proibido anseio






Sonho pés pernas






De não poder ter






Possuir sua carne






Fica só o talo
Espinho lembrança






Por que essa face






Persegue-me rosa-Chá que renova






Sempre o martírio.









Felipe Henrique · Mesquita (RJ) * escreve para o Overmundo

Brasil: Pesquisadores e escritores de língua portuguesa criam associação internacional de estudos de literatura e história africana


Brasil: Pesquisadores e escritores de língua portuguesa criam associação internacional de estudos de literatura e história africana


22 de Novembro de 2007, 13:06


Brasília, 22 Nov (Lusa)
- Escritores e investigadores de língua portuguesa decidiram criar, durante um encontro sobre literaturas africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma associação internacional de estudos de literatura, história e cultura africana.


"Este é um grande passo dado pelo III Encontro de Professores de Literaturas Africanas, que decorre até o dia 24 e conta com um número expressivo de escritores de países africanos", disse hoje à Lusa a professora da UFRJ Teresa Salgado, uma das organizadoras do evento.

De acordo com a académica, esta iniciativa deverá incrementar os contactos entre os especialistas e escritores e incentivar a divulgação das literaturas africanas no Brasil.

"É um momento de esperança. Vemos aqui pesquisadores e autores com vontade de mudar o panorama de pouca visibilidade das literaturas africanas no meio literário brasileiro", assinalou Teresa Salgado.

Cerca de 500 pessoas estão a participar no encontro no Rio de Janeiro, cujo tema é "Pensando África: crítica, ensino e pesquisa".

Em foco estão obras de escritores africanos como Mia Couto, Pepetela e Germano Almeida, a literatura de autoria feminina e o ensino de literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil.

Hoje à tarde haverá uma "mesa de escritoras", com a presença da angolana Paula Tavares, da cabo-verdiana Vera Duarte, da são-tomense Odete Semedo e da moçambicana Ana Mafalda Leite.

CMC.

Lusa/Fim

quinta-feira, novembro 22

Natalie Merchant amp Michael Stipe - Hello in there

Peter Cincotti - I Love Paris

YouTube - Azagaia ft Valete - Alternativos

Azagaia


de



*Em memória de NYMPINE CHISSANO e, com os meus sentidos pêsames à família Chissano.

A DEFESA POÉTICA - Por: LÍGIA SAAVEDRA











A DEFESA POÉTICA






Invertes meu interior






Mostrando-me o avesso da memória






Onde bebo o sangue derramado em lágrimas






E absorvo, da matéria revirada,






A eloqüência para compor




Essa disfarçada elegia.






Promover o conceito






Que te levará a elucubração






Só necessária ante o perdão elege-me,


Embaixador da


Desculpa Com Humildade.






Mas, recorda-te?






É a Remissão dos Pecados




Que nos une em Cristo.






Perdoa o meandro mefítico.




E volta...






Há de te acolher o Amor






Nos braços da ReconquistaRecrudescendo carinhos,






Dissipando dúvidas


E as pazes fazendo.






Expulsarás assim os dejetos






Da denúncia invejosa






Oculta em faces rosadas






Que primam em desmantelarRomances perfeitos.






E eu, em contentamento,






Alio à gratidão,






A vital essência da existência,






O desvelo pelo ser humano.






LÍGIA SAAVEDRA













Autoria: LÍGIA SAAVEDRA




Ficha Técnica A figura que ilustra a poesia mostra a Deusa Maat.






Maat é a personificação da Verdade, da Justiça e da Harmonia Universal.






Ela é a potência, o princípio metafísico, que mantém o mundo na sua regrada continuidade.






O Cosmos, a Natureza, e a Sociedade, no fundo, a Ordem Universal, só se mantêm de forma duradoura exatamente pelo seu atento zelo.






Representada como uma mulher, de pé, sentada ou com um dos joelhos em terra, apresenta, fixada em uma fita da sua cabeleira, uma pluma de avestruz, que é o seu principal signo identificador.






Em muitas representações, a simples figuração da pluma simboliza a sua presença e atuação.






É irmã de Rá, o Deus-Sol e esposa de Thoth, o escriba dos deuses com cabeça de ibis.






Maat é equivalente à Têmis grega e, como esta, é explicitamente a representação divina da lei e da ordem cósmicas naturais.






Como ordem cósmica, Maat é o alimento do Deus-Sol Rá; é também "o olho de Rá" e o Ka de Rá.






Segundo as crenças egípcias, o corpo do homem se compunha de dois elementos espirituais, o Ba, similar a alam e o Ka, uma espécie de réplica do corpo.






A morte representava a separação do elemento corporal dos espirituais. Entretanto, Ka não poderia sobreviver sem a presença do corpo, foi daí que se desenvolveram técnicas precisas de conservação, conhecidas com embalsamento.






O processo de mumificação tinha como objetivo a manutenção do corpo para própria existência de Ka.Maat é a Senhora do Céu, Rainha da Terra e amante do Mundo







Data

21/11/2007 20:00


quarta-feira, novembro 21

Natalie Merchant - Just Cant Last

Boa noite minha gente.

Fiquem em paz.

Madalena

Estudo mostra visão estereotipada dos brasileiros entre portugueses

Estudo mostra visão estereotipada dos brasileiros entre portugueses
21/11 - 06:52 - BBC Brasil



Uma pesquisa realizada na Universidade de Coimbra sobre a imigração brasileira em Portugal revela que, para os portugueses, a imagem das mulheres brasileiras está relacionada ao sexo e dos homens à falta de compromisso e à malandragem.

Para Benalva da Silva Vitório, autora da pesquisa, “a brasileira é vista como menina de programa”.
Segundo ela, essa imagem está relacionada às campanhas de turismo promovidas fora do Brasil.
“Acredito que isso tenha começado por causa da Embratur, que vendia o Brasil como um lugar de praias bonitas e mulheres sensuais”, disse à BBC Brasil.


De acordo com a pesquisa, a imagem dos homens brasileiros também segue estereótipos e revela uma visão negativa.
“Os homens são vistos como malandros, que fazem muito barulho e não cumprem compromissos”, disse a autora.


O estudo é resultado da tese de pós-doutorado da brasileira Benalva Vitório.
O estudo foi publicado no livro “Imigração Brasileira em Portugal – Identidade e Perspectivas” lançado em Lisboa em novembro .

A pesquisa ouviu 50 brasileiros em cinco regi
ões de Portugal – Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Algarve.
Além das entrevistas, a autora pesquisou artigos veiculados na imprensa portuguesa sobre os imigrantes brasileiros e outras formas de representação de brasileiros no país.


Perfil


A pesquisa aponta ainda uma mudança no perfil dos imigrantes brasileiros em Portugal a partir da década de 90, quando, segundo a autora, a instabilidade econômica gerada pelo Plano Collor provocou a ida de muitos brasileiros de classe média e alta para Portugal.
“Foi a época dos dentistas, publicitários e informáticos”, exemplificou.


Segundo ela, atualmente o perfil é diferente.
A maioria dos imigrantes brasileiros trabalha na construção civil, no comércio, em restaurantes e no serviço doméstico e em atividades que não exigem qualificação.
A maioria dos brasileiros ouvidos na pesquisa afirmou que estaria morando em Portugal por pouco tempo.
“Eles vêm fazer um pé-de-meia e vivem com a idéia de voltar.
Todos se dizem passageiros da chuva”, diz a autora.


Choque cultural


De acordo com o estudo, os brasileiros que emigram para o país não conhecem a cultura portuguesa e pensam que, devido à língua, Portugal é como o Brasil.


Para Benalva, a falta de conhecimento dos brasileiros sobre Portugal se deve, em parte, ao ensino das escolas brasileiras.
“Na escola, estuda-se até a independência.
Passou de 7 de setembro de 1822, acabou.
Não ensinam a geografia ou a história dos dois países”, afirmou a autora.


Ela conta que o primeiro choque cultural acontece ao chegar a Portugal, quando os imigrantes enfrentam as primeiras diferenças.
Segundo a autora, muitos chegam sem noções básicas sobre a economia do país e sobre a tramitação necessária para se obter documentos.


“É muito difícil admitir que a idéia foi um erro, que não está dando certo. Por isso, os imigrantes se submetem a qualquer situação.
Muitos vivem em condições mínimas de sobrevivência”, relatou Benalva.


Numa das entrevistas publicada no livro, um dos brasileiros, identificado pelas iniciais J.C., conta que passa a maior parte do tempo trabalhando.
“Aqui a gente trabalha até 19 horas por dia”.


A pesquisa revela também que há diferenças no tratamento recebido pelos brasileiros e por imigrantes de outras nacionalidades de língua portuguesa, principalmente os de origem africana.

“No princípio, sinto-me rejeitado porque sou negro”, conta o brasileiro identificado como W.B.
“Depois que eu falo e os portugueses percebem que sou brasileiro, isso muda.
No trabalho, ao lado de angolanos, cabo-verdianos e moçambicanos, eu sou mais bem tratado do que eles, pelo fato de ser brasileiro”, admitiu.

Amigos-(Oscar Wilde)

A gente não faz amigos, reconhece-os
(Vinícius de Moraes)



Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e a alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.


Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de

aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice.
Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que
nunca tenham pressa.


Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me
esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.


(Oscar Wilde)

ESPIRITUALIDADE por Alexandra Solnado



ESPIRITUALIDADE




por Alexandra Solnado








A partir de agora as religiões já não vão mais ser o centro da actividade espiritual da humanidade.






A partir de agora serão as filosofias que irão levar à espiritualidade.




A partir de agora as religiões já não vão mais ser o centro da actividade espiritual da humanidade.






A partir de agora serão as filosofias que irão levar à espiritualidade.






Como este trabalho que fazemos.






É isto que a Era de Aquário propõe:




Entendimento.






Filosofias de vida que vos ajudem a viver melhor e a conectarem-se mais com o divino, esta força sagrada que vos guia e protege.






Na realidade Deus é o todo, é a soma das partes.






O masculino não existe sem o feminino e vice-versa.






Os dois têm a sua igual parte na criação.








Mas não pensem que são iguais, não são!






Tem a mesma importância, o mesmo peso no andar das coisas, mas são extremamente diferentes.








Enquanto um sustenta o peso Yin, o outro compensa com o Yang.








Enquanto um vai, o outro fica.






Enquanto um quer, o outro aceita.






Essa é a função das coisas.






Polarização!






Os opostos!






Conseguir viver nessa harmonia dos opostos é que está a questão.






Como juntar o sim e o não?






O bom e o mau?






O positivo e o negativo?








Harmonizando, aceitando as diferenças sem julgamento, sem achar que uma é melhor e outra pior.










Este Jesus Cristo Que Vos Fala, Livro 3/ A Era da Liberdade,Alexandra Solnado é autora de:






A Alma IluminadaA Minha Limpeza Espiritual (com CD de Exercícios)






O Eu Superior e Outras Lições de Vida (com CD de Exercícios)








Este Jesus Cristo Que Vos Fala, Livro 3 /






A Era da LiberdadeEste Jesus Cristo Que Vos Fala, Livro 2








Este Jesus Cristo Que Vos Fala, Livro 1/








A Entrega






Para saber mais ou encomendar livros autografados pela autora visite o site






TEXTURA ROSA FLOR - Cintia Thomé do Overmundo






TEXTURA ROSA FLOR






Na textura do amor






Taça em flor






Beba do seio a essência






Nas vestes que te acompanhou






Cálice cálido perfume






A pureza em Cânticos






De amor do que ficou






No olhar duas folhas






No lume das pétalas




Sentem eterna dor




Morda os lábios de saudade






Não há mal nenhum






Lamber o talo






Sem espinho por quem






Chorou








Cintia Thomé do Overmundo

Da Antigüidade à Crise da Modernidade: O Desenvolvimento da Bioética


Por que retornar aos gregos para falar de bioética?
Em primeiro lugar, para compreender o processo histórico que levou o homem a renunciar à idéia de uma vida feliz estruturada na virtude, no verdadeiro bem, para associá-la à eficiência técnica e ao consumismo.

Acompanhar a passagem do domínio dos deuses sobre os humanos, as dificuldades que tiveram ao assumirem o papel de donos do próprio destino, dos valores morais que acompanharam essa trajetória, a instalação das cidades com suas leis e seus códigos de conduta social, a descoberta da possibilidade de dominação com sua ética de guerra e a dor da solidão, da miséria, que jogou o homem no obscurantismo religioso, de um Deus único e do pecado original, é condição necessária para alcançarmos as raízes da ética moderna.
Da revolução das idéias à da tecnologia, o homem vem sofrendo com a velocidade com que é solicitado para opinar e agir.
De todas as áreas, é o estudo da biologia que mais nos oferece elementos para questionarmos os valores tradicionais e exige novos enfoques éticos.
O mundo das idéias renova-se compulsivamente, o morrer e o viver recebem novas verdades, necessitamos (des)constuir a uma velocidade nunca imaginável, novas técnicas são adicionadas à medicina, o belo e o consumismo passa a ser uma exigência do corpo, mais que a virtude.

Dentro dessa contradição histórica, da arrogância do homem diante da natureza, alicerçada em uma ciência que ultrapassa barreiras nunca imaginadas, um sentimento de perda dos valores éticos e espirituais alastra-se pela sociedade.
É desse processo que tentarei falar aos senhores.

Texto apresentado no Simpósio sobre Bioética da UNISANTOS - 2001

Caetano Veloso- Tropicália



Alceu Valença - Coração Bôbo

Chico Cesar A primeira Vista By Jean Lopes e Olindo este

segunda-feira, novembro 19

Alceu Valença - Morena Tropicana - Rock in Rio 1985



* Eu estive lá a ver!


Show de bola mesmo...


Madalena


Rent--Pet Shop Boys


O tema da escrita em Memória Consentida de Rui Knopfli

O tema da escrita em
Memória Consentida de Rui Knopfli

Introdução

Memória Consentida, colectânea de poesia, em língua portuguesa, que abrange os anos que vão de 1959 a 1979, comporta material bastante para propor uma leitura não disciplinada por indicações exteriores de estilo. A par da dificuldade confessada dos críticos em situar esta produção poética, é o autor quem, numa condição de autoconsciência, em duas artes poéticas e vários poemas de idêntica função, reflecte sobre a sua escrita e constrói a ponte que o coloca no mundo.
O texto que agora se apresenta articula os aspectos relevantes sobre o fenómeno da escrita em Rui Knopfli, numa atitude de cooperação, ou, se quisermos, de declaração, possível, da sua presença.
Sobre um poeta que assume o fingimento e o jogo da criação poética resulta, porventura, uma leitura analítica «que não exclui uma subjectividade»
[1], isto é dizer, que solicita um encontro fecundo de fruição, próprio de uma escrita crítica e dialogante tão ao sabor de Knopfli.

O «respirar» poético e a escrita como um labor oficinal.

Rui Knopfli trata poeticamente o duplo processo de insuflação poética e de fixação na matriz, ora queixando-se que «perdeu um verso largo, / enxuto e musical» ora reconhecendo que a poesia é também um ofício:

[...] Era bom
e certeiro, acreditem, esse verso
arisco e difícil, que se soltara
dentro de mim. Mas meu filho
riu e o verso despenhou-se no cristal
ingénuo e fresco desse riso.
(p. 199)

Metaforicamente arisco e difícil – domesticável, domesticado?
Quando o poeta vê no verso que escreveu o seu «retrato moral», exposto involuntariamente (cf. «Amor das palavras», p. 41) é porque, de algum modo, o acto de escrita o ultrapassou. As palavras, escreve,

«juntas transcendem-se,
há algo de íntimo,
coeso e secreto
nelas.»

Ao «Aprendiz na Oficina da Poesia» (p. 108), aconselha a tomar uma atitude expectante, sem nada de buscas ansiosas, sem violentações rítmicas e rimáticas.
Se o aprendiz esperar que as palavras germinem em si, então, cairão «maduras», qual um fruto, e «prenhes de significado». Contudo, se «o dito tempo exceder o tempo / que se achou ser justo esperar» – sugere o poeta em «Ars Poética 63», p. 183 – então, deve arriscar por começar.

Em «Ofício Novo» (p. 110), a poesia anima-se, agindo por si própria: «abre os olhos», cansa-se de um mundo de «sonho» e «refaz-se».
Com ela, o poeta também.

Não é de agora a enunciação do duplo fenómeno da escrita.
Já António Ferreira, no século XVI, defendia que o tempo favorece o espírito crítico e o possível retoque do texto escrito.
A reedição, num só volume, de obras publicadas ao longo de vinte anos deu a Knopfli a oportunidade de usar, sobre o corpus textual, a lima do poeta.
Face à intenção de excluir textos que se lhe «afiguravam de qualidade inferior», solicitou um parecer sobre o critério seguido a Eugénio Lisboa que se pronunciou «em favor de que se mantivessem alguns textos previamente suprimidos porque entendia, no caso vertente, que aos juízos qualitativos se deveriam sobrepor os que concorressem para a delimitação do espaço geográfico, temporal e espiritual».
Esta nota do autor, que antecede a colectânea, justifica, a meu ver, o título, Memória Consentida.


Para Knopfli, o jorro poético, por si só, não constitui a arte de escrever, pois é trabalhado, requer atenção, amor e gosto pela sua (re)elaboração.
Sem colocar em causa a autenticidade, o poeta domestica o «verso arisco e difícil» (p. 189) que se cumpre «lenta e dolorosamente» (p. 203) até à «calma das superfícies» (p. 107).

Em Mangas Verdes com Sal, livro publicado em 1969, a palavra «oficina» ocorre duas vezes associada à ideia do labor poético, assim enunciado:

«eu trabalho, dura e dificilmente,
a madeira rija dos meus versos
sílaba a sílaba, palavra a palavra»
(p. 183)

Resulta deste processo, segundo Luís de Sousa Rebelo, uma «linguagem despojada que acompanha o frio desnudamento da emoção e a refreia» (in «Prefácio» a Memória Consentida, p. 10).

O gosto pelas palavras e o seu valor.

Constitui a vigilância de fronteiras o gosto que o poeta tem pelas palavras e pelo seu valor. Aliás, di-lo de uma forma incomum no primeiro livro publicado, O País dos Outros, em 1959:

«Amo todas as palavras, mesmo as mais difíceis
que só vêm no dicionário»

porque têm uma função esclarecedora:

«o dicionário ensinou-me mais um atributo
para o sabor dos teus lábios.
São doces como sericaia.
Faz-me pensar ainda se a tua beleza não será
Comparável à das huris prometidas.
No dicionário aprendi que o meu verso é
Por vezes fabordão e sesquipedal.»

e uma função crítica:

«O dicionário, as palavras, irritam muita gente»
(p. 49)

Em O Escriba Acocorado, publicado em 1978, há a afirmação da língua (portuguesa) como pátria única. À perda do espaço amado impõe-se a palavra. Agora, diz o poeta:

«[...] se restringe ficção
e paisagem ao exíguo mas essencial: legado
de palavras, pátria é só a língua em que me digo.»
(p. 364).

Contudo, «na pátria-língua não há apaziguante enraizamento, mas um revolver cada vez menos partilhável» (PEREIRA, p. 405), pois, até os

«amigos de outrora
diluem-se para fora da linguagem»
(p. 378)

E a escrita parece-lhe «morosa, pertinaz» (p. 385):

«Escrevo sentado sob a fraca luz que do alto
desce. Tempo houve, outrora, em que as palavras,
vertiginosa enxurrada, me acudiam desenvoltas
à memória. Escrevo sobre a dura pedra do tempo
mal distintos, mas aciculados sinais.»
(p. 384)


Dialogismo: influência, crítica e singularidade.

O dialogismo textual é algo a que o escritor não se subtrai, antes, cultiva o confronto com textos alheios como forma de apurar e afirmar a sua própria escrita.

A polifonia textual em Memória Consentida «vai da admiração respeitosa ao ridículo mordaz» (HUTCHEON, p. 28), da agradável activação da (nossa) leitura de Pessoa ou Jorge de Sena (quando aqui se referiu à pátria-língua) ao eventual conluio em protesto contra os excessos concretistas.

A circunstância de o discurso literário ser intertextual não retira a singularidade do autor, porque «assinala a intersecção da criação e da recriação, da invenção e da crítica» (HUTCHEON, p.128).

É nesta qualidade que Rui Knopfli revela ser um leitor ávido e crítico,

«Que, em suma,
roubando aos ricos para dar a este pobre,
sou o Robin Wood dos Parnasos e das Pasárgadas»
(p. 202)

Nestes versos redige a sua «Contrição», ou melhor, pseudo-contrição, já que celebrizam a reacção do poeta a um crítico literário obcecado por lhe detectar influências:
«Felizmente, é pouco lido o detractor de meus versos,
senão saberia que também furto em Vinícius,
Eliot, Robert Lowell, Wilfred Owen [...]»

e tantos outros do mundo da literatura, do cinema, da pintura e demais artes.

Fernando J. B. Martinho, num importante estudo sobre a influência d’«A América na poesia de Rui Knopfli», deixa assente que «os autores americanos citados em epígrafe ou no corpo dos poemas [...] ajudam apenas a desenhar, dentro das literaturas de “matriz europeia”, e particularmente das de língua inglesa, em cuja “continuidade” a poesia de Knopfli se situa, o mapa de leituras, de interesses, de obsessões por que se ajusta o horizonte intertextual do autor de Mangas Verdes com Sal» (p. 137).

«Pessoa Revisited», de 1959, é um poema sintomático da escrita pós-pessoana do panorama português.
Reflecte a relação fantasmática dos nossos escritores com o poeta maior, quer no sentido de o tomar por modelo quer com o propósito de dele se libertar, negando-o ou fazendo por ignorá-lo.
Sem embaraço, em várias das suas composições, Knopfli revisita-o, mas nesta em particular interpela-o directamente, não só em seu nome como também em suposição de uma colectividade:

«Alguma vez todos os poetas
se encontram contigo.
Mesmo os menores como eu
[...]
hoje nos limitamos a entrar
[...]
e visitamo-te com secreta religiosidade.
[...]
em vão te buscamos,
em vão rezam por ti compridas laudas
em jornais a ressumar cultura,
em vão te imitamos[...]»
(pp. 90-91)

Dentre os autores que não se envergonha de furtar (termo utilizado em «Contrição») há um que é epigrafado duas vezes e cuja poesia foi traduzida para português por Rui Knopfli.
Trata-se de T. S. Eliot, importante pela concepção de tradição que nos legou na sua obra Tradition and Individual Talent, de 1919. Luís de Sousa Rebelo entende que esse conceito continua a ser o mais adequado no enquadramento de Memória Consentida.
A ideia de continuidade cultural e de «sentido histórico» compreende uma percepção não só do passado, mas também da sua presença, isto é, toda a literatura «possui uma existência simultânea e compõe uma ordem simultânea»
A epígrafe de Eliot escolhida para o livro Máquina de Areia (1964) dá conta exactamente desta linha de força tão em voga na literatura contemporânea:

«Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.»
(in Burnt Norton)

Neste contexto de leitura do passado, Linda Hutcheon lembra que «não é por acaso que Jencks decide mencionar T.S. Eliot, juntamente com o desejo pós-modernista de mudar a nossa maneira de ver o passado.
Tal como na poesia de Eliot, existe um alto grau de empenhamento do descodificador, combinado com um elevado grau de complexidade textual» (p. 146).

Com o mesmo à-vontade que Knopfli reconhece a sua dívida para com outros escritores, também critica outras escritas e proclama a sua singularidade.

Em Mangas Verdes Com Sal, o «Poemazinho concretista inspirado em João de Deus primeiro poeta dito, com vista aos leitores (adultos) das primeiras letras», da lavra de Knopfli, resulta da sua reacção aos excessos experimentalistas que proliferavam em publicações da época:

v i a u v a
v i a úvula
v i a vulva
fulva à viúva

viste uma ova

Poema a duas vozes, uma de construção concretista nos primeiros quatro versos e outra de escárnio, assim percebida por causa do diminutivo depreciativo que consta no longo título e que contamina toda a composição.
«Poemazinho» é, pois, a palavra chave fornecida pelo autor para que se possa decifrar a intenção crítica.

Não o vejo como exemplo de simples imitação, mas de uma versão irónica de transcontextualização ou de «paródia estilística», nas palavras de Linda Hutcheon.
Este tratamento paródico da escrita concretista manifesta a recusa de Knopfli em «seguir métodos fáceis, ou julgados como tais, contribui para distanciá-lo de uma crítica que é mais sensível à novidade e ao insólito do que a um discurso de identidade em permanente devir» que, afinal, é o seu (REBELO, p. 15).

Assim sendo, a poesia surge como uma «Poesia Sem Mais Nada» (p. 203) e ele um «poeta-sem-mais-nada» que se demarca de seu «irmão», o «poeta demagógico».
O primeiro compõe o verso com «pequenos materiais», «carinho», «minúcia», «subtil humildade»; «estende o braço / da fraternidade / no abraço / que vai do coração da humanidade», porque, de resto, o poeta de Memória Consentida nunca escreveu «versos que não fossem de amor» (p. 185):

«Na oficina escura do poeta-
-sem-mais-nada o verso cumpre-se
lenta e dolorosamente,
mas suas arestas vivas,
sua dureza de diamante
insinuam-se teimosamente
e vão, sempre com ar discreto,
minando os poderes constituídos.»
(p. 203)

Não obtém simpatia o poeta demagógico por parte de Rui Knopfli, antes, é referido com ironia acutilante:

«Rola e estraleja farto o trovão
no verso chocalhante do poeta
demagógico e o público aplaude
comovido.»
(idem)

Não devemos confundir o poeta demagógico com o conhecido poeta fingidor. Este, qual poeta-sem-mais-nada, usa as palavras como forma de se cumprir e de se conhecer. «O Poeta é um Fingidor» encima um poema que merece ser citado por inteiro:

Entreteço palavras
na malha áspera destes versos
e a tessitura triste que faço
mais esmorece no azul baço
do papel. Entristeço então
a alma numa renda miúda
e apertada de ponto incerto
e complicado. Estabeleço assim
dois mundos convergentes:
A textura entristecida dos versos
e a tristeza entretecida da alma.
E logo esqueço onde tudo isto
teve começo:
Se de entristecer palavras,
se de entretecer sentimentos,
se de constranger a alma,
se de contristar palavras:
se me contristei constrangendo,
se me constrangi contristando.

Sei que me contristo entretecendo
E me entreteço de tristeza.
(p. 212)

O poeta joga com as palavras (experimenta-as?), implicando-se, isto é, jogando-se também. Os seus versos são, como escreve noutra composição, uma «Ginástica Aplicada» (p. 186):

«Meu verso cínico é minha terapêutica
e minha ginástica [...]
Há um sorriso discreto em minha segurança.
[...] meu verso,
como de vós, ri-se de mim em ar de troça».

O discurso analítico de «Ars Poética 66», que legitima o olhar para outros poemas como tendo o mesmo sujeito poético, serve tanto o processo de autognose do autor como fá-lo intervir directamente no nosso processo de leitura:

«os meus versos nem sempre são
aquilo que parecem e nunca
dizem o que parece estarem a dizer»

Estrofes adiante, sarcasticamente:

«No essencial, porém, os meus versos
não têm ambição maior do que esta:
A de serem os versos
de um menino da cidade,
vértice minúsculo no polígono
do betão, do gin & tonic,
do volante Nardi e do asfalto.

Realmente pouco importa
que para além do polígono,
da malha apertada das palavras
e do meu perfil
agudo de pássaro curioso
haja paisagens só perceptíveis aos olhos
de quem quiser olhar-me bem nos olhos
que só são duros por pudor e ternura.»
(pp. 230-232)

No essencial, porém, os seus versos são os de um moçambicano na Europa e os de um europeu em Moçambique. Um euromoçambicano com o «desejo de comunicar»:

«Escrevo-te estas palavras
sabendo que as não lerás.
Entanto, o desejo de comunicar
é maior do que essa certeza.»
(p. 129)

Aqui, o poeta pensa o desejo de comunicar.
É algo mais que o lugar comum de que toda a escrita é, em última instância, comunicação. São versos «A Uma Criança Longe» que se revelam, conscientemente, como um apelo sem resposta.
No entanto, os mesmos versos tocam a ausência, assim como nós nos aproximamos do poeta, estando ele «longe».
Deixou ele, em «Testamento» (p. 46), as seguintes palavras: «[...] ecoo inteiro na força do meu grito.»
Ficará, porventura, para a «Posteridade» em seus «trinta leitores», mas, ironia do destino, prevê:

«meu nome começará aparecendo
nas selectas e, para tédio
de mestres e meninos, far-se-ão
edições escolares de meus livros.
Nessa altura estarei esquecido.»
(p. 207)

Conclusão

Amante das palavras, o poeta, aturada e pacientemente, espera que germinem em si para artisticamente colhê-las e colocá-las na matriz.
Desta emergência dificultosa da palavra procede a consciência crítica de que a superfície calma do poema é inscrita sobre tons aflitivos e silêncios subaquáticos.
Ao desenho sóbrio do sujeito, cerebral, mas em conflito com o tempo, soma-se a característica faculdade de amar «em retórica discursiva» (p.77).

A metapoética e a interacção de diversos discursos em Memória Consentida ao mesmo tempo que servem o processo de autognose do autor encenam outras presenças entre as quais se inclui a do leitor.


Bibliografia

HUTCHEON, Linda, Uma Teoria da Paródia. Ensinamentos das Formas de Arte do Século XX, Lisboa, Edições 70, 1989.

KNOPFLI, Rui, Memória Consentida. 20 Anos de Poesia 1959/1979, Lisboa, I.N.-C.M., 1982.

MARTINHO, Fernando J. B., «A América na poesia de Rui Knopfli» in Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Lisboa, F.C. Gulbenkian, 1987, pp.119-137.

PEREIRA, José Carlos Seabra, «Flores, árvores e frutos na poesia de Rui Knopfli: uma faceta da expressão da identidade individual no contraponto de Heimat e de desenraizamento» in Les Littératures Africaines de Langue Portugaise, Paris, F.C. Gulbenkian, 1985, pp. 397-406.

REBELO, Luís de Sousa Rebelo, «Prefácio» in Memória Consentida. 20 Anos de Poesia 1959/1979, Lisboa, IN-CM, 1982.

José Maria Aguiar Carreiro

Texto publicado como título «Memória Consentida» in Informar – Revista de Acção Educativa nº 26, Armando Dutra (dir.), Ponta Delgada, edição do Centro de Apoio Tecnológico à Educação, Maio/ Agosto de 1998, pp.63-68.

Lembro as oportunas e favoráveis palavras de Eduardo Prado Coelho que apresentam o ensaio de Helena Malheiro sobre Os Amantes ou a arte da novela em David Mourão-Ferreira, IN-CM, 1984.
«Conheça-me a mim mesmo: siga a vea / Natural, não forçada [...]» (in Poemas Lusitanos, vol. II, p. 105, colecção Clássicos Sá da Costa); «Deixa só madurar o doce fruito / Um pouco: deixa a lima contentar-se: / Inventa e escolhe então o melhor de muito» (idem, p. 110).
T.S. Eliot, Ensaios de Doutrina Crítica, cit. por REBELO, p. 15.
A filha – sabêmo-lo através dos elementos paratextuais.