Por que retornar aos gregos para falar de bioética?
Em primeiro lugar, para compreender o processo histórico que levou o homem a renunciar à idéia de uma vida feliz estruturada na virtude, no verdadeiro bem, para associá-la à eficiência técnica e ao consumismo.
Acompanhar a passagem do domínio dos deuses sobre os humanos, as dificuldades que tiveram ao assumirem o papel de donos do próprio destino, dos valores morais que acompanharam essa trajetória, a instalação das cidades com suas leis e seus códigos de conduta social, a descoberta da possibilidade de dominação com sua ética de guerra e a dor da solidão, da miséria, que jogou o homem no obscurantismo religioso, de um Deus único e do pecado original, é condição necessária para alcançarmos as raízes da ética moderna.
Da revolução das idéias à da tecnologia, o homem vem sofrendo com a velocidade com que é solicitado para opinar e agir.
De todas as áreas, é o estudo da biologia que mais nos oferece elementos para questionarmos os valores tradicionais e exige novos enfoques éticos.
O mundo das idéias renova-se compulsivamente, o morrer e o viver recebem novas verdades, necessitamos (des)constuir a uma velocidade nunca imaginável, novas técnicas são adicionadas à medicina, o belo e o consumismo passa a ser uma exigência do corpo, mais que a virtude.
Dentro dessa contradição histórica, da arrogância do homem diante da natureza, alicerçada em uma ciência que ultrapassa barreiras nunca imaginadas, um sentimento de perda dos valores éticos e espirituais alastra-se pela sociedade.
É desse processo que tentarei falar aos senhores.
Texto apresentado no Simpósio sobre Bioética da UNISANTOS - 2001
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