Estudo mostra visão estereotipada dos brasileiros entre portugueses
21/11 - 06:52 - BBC Brasil
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Uma pesquisa realizada na Universidade de Coimbra sobre a imigração brasileira em Portugal revela que, para os portugueses, a imagem das mulheres brasileiras está relacionada ao sexo e dos homens à falta de compromisso e à malandragem.
Para Benalva da Silva Vitório, autora da pesquisa, “a brasileira é vista como menina de programa”.
Segundo ela, essa imagem está relacionada às campanhas de turismo promovidas fora do Brasil.
“Acredito que isso tenha começado por causa da Embratur, que vendia o Brasil como um lugar de praias bonitas e mulheres sensuais”, disse à BBC Brasil.
De acordo com a pesquisa, a imagem dos homens brasileiros também segue estereótipos e revela uma visão negativa.
“Os homens são vistos como malandros, que fazem muito barulho e não cumprem compromissos”, disse a autora.
O estudo é resultado da tese de pós-doutorado da brasileira Benalva Vitório.
O estudo foi publicado no livro “Imigração Brasileira em Portugal – Identidade e Perspectivas” lançado em Lisboa em novembro .
A pesquisa ouviu 50 brasileiros em cinco regiões de Portugal – Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Algarve.
Além das entrevistas, a autora pesquisou artigos veiculados na imprensa portuguesa sobre os imigrantes brasileiros e outras formas de representação de brasileiros no país.
Perfil
A pesquisa aponta ainda uma mudança no perfil dos imigrantes brasileiros em Portugal a partir da década de 90, quando, segundo a autora, a instabilidade econômica gerada pelo Plano Collor provocou a ida de muitos brasileiros de classe média e alta para Portugal.
“Foi a época dos dentistas, publicitários e informáticos”, exemplificou.
Segundo ela, atualmente o perfil é diferente.
A maioria dos imigrantes brasileiros trabalha na construção civil, no comércio, em restaurantes e no serviço doméstico e em atividades que não exigem qualificação.
A maioria dos brasileiros ouvidos na pesquisa afirmou que estaria morando em Portugal por pouco tempo.
“Eles vêm fazer um pé-de-meia e vivem com a idéia de voltar.
Todos se dizem passageiros da chuva”, diz a autora.
Choque cultural
De acordo com o estudo, os brasileiros que emigram para o país não conhecem a cultura portuguesa e pensam que, devido à língua, Portugal é como o Brasil.
Para Benalva, a falta de conhecimento dos brasileiros sobre Portugal se deve, em parte, ao ensino das escolas brasileiras.
“Na escola, estuda-se até a independência.
Passou de 7 de setembro de 1822, acabou.
Não ensinam a geografia ou a história dos dois países”, afirmou a autora.
Ela conta que o primeiro choque cultural acontece ao chegar a Portugal, quando os imigrantes enfrentam as primeiras diferenças.
Segundo a autora, muitos chegam sem noções básicas sobre a economia do país e sobre a tramitação necessária para se obter documentos.
“É muito difícil admitir que a idéia foi um erro, que não está dando certo. Por isso, os imigrantes se submetem a qualquer situação.
Muitos vivem em condições mínimas de sobrevivência”, relatou Benalva.
Numa das entrevistas publicada no livro, um dos brasileiros, identificado pelas iniciais J.C., conta que passa a maior parte do tempo trabalhando.
“Aqui a gente trabalha até 19 horas por dia”.
A pesquisa revela também que há diferenças no tratamento recebido pelos brasileiros e por imigrantes de outras nacionalidades de língua portuguesa, principalmente os de origem africana.
“No princípio, sinto-me rejeitado porque sou negro”, conta o brasileiro identificado como W.B.
“Depois que eu falo e os portugueses percebem que sou brasileiro, isso muda.
No trabalho, ao lado de angolanos, cabo-verdianos e moçambicanos, eu sou mais bem tratado do que eles, pelo fato de ser brasileiro”, admitiu.
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