sábado, abril 12

Sintomas físicos dolorosos são comuns à depressão

Indivíduos com depressão sofrem em silêncio
e esperam quase um ano até procurarem ajuda


Um estudo internacional da Federação Mundial para a Saúde Mental (World Federation of Mental Health - WFMH) revelou que cerca de 72 por cento dos indivíduos com depressão major não acreditava, antes do diagnóstico, que os sintomas físicos dolorosos -- tais como cefaleias, lombalgias, distúrbios gastrointestinais e sintomatologia dolorosa indefinida – são comuns à depressão. No entanto, 79 por cento reconheceu estes sintomas como incomodativos ou muito incomodativos, alertando-os para consultar um médico.

O estudo também concluiu que as pessoas com distúrbio depressivo major esperaram, em média, cerca de 11 meses até marcarem uma consulta médica e só obtiveram o diagnóstico de depressão após cinco visitas, o que, consequentemente, atrasou o início do tratamento.

«A depressão não diagnosticada pode ser uma situação muito grave dado que a investigação médica mostra que quanto mais tempo uma pessoa deprimida permanece sem tratamento, mais crónica se poderá tornar a sua condição e a possibilidade de uma recuperação total poderá ser reduzida», afirma Pedro Delgado, presidente do Departamento de Psiquiatria na Faculdade de Medicina, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. «É importante que os médicos e os doentes percebam que os sintomas físicos dolorosos podem ser sintomas de depressão e que são um sinal para procurar ajuda.»

A WFMH realizou o estudo “Depressão: a Dolorosa verdade” («Depression: The Painful Truth») por forma a avaliar o conhecimento de doentes deprimidos e médicos sobre a relação entre a depressão e os seus sintomas físicos dolorosos, e para identificar potenciais lacunas ao nível do diagnóstico e tratamento. Investigações científicas anteriores mostram que 69 por cento dos doentes com depressão major relataram sintomas físicos como principais queixas1.

Cerca de 340 milhões de pessoas em todo o mundo têm depressão2. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde estima-se que três quartos dos indivíduos com um distúrbio depressivo nunca receberam qualquer tratamento3. Apesar da alta prevalência de sintomas físicos, a WFMH está preocupada com o facto de a população não estar completamente consciente da relação entre a depressão e os sintomas físicos dolorosos e que tal possa estar a contribuir para as baixas taxas de tratamento em todo o mundo.

«Infelizmente, muitas das pessoas que sofrem de depressão desconhecem que os sintomas físicos dolorosos e indefinidos que sentem podem estar relacionados com uma depressão major, ou podem nem sequer querer falar sobre a possibilidade de uma doença mental, mesmo com o médico», disse Patt Franciosi, presidente da WFMH. «De qualquer forma, a maioria dos doentes não tem acesso ao tratamento que mais os poderia beneficiar. Precisamos de educar as pessoas e ajudá-las a compreender todos os possíveis sinais de depressão, de forma a que estejam cada vez mais aptas a discutir abertamente com o seu médico, como se sentem.»

O estudo foi conduzido pela Harris Interactive®, uma companhia independente de estudos de mercado, e incluiu 377 indivíduos com diagnóstico de depressão, 375 médicos de família e 381 psiquiatras de cinco países: Brasil, Canadá, México, Alemanha e França.


Resultados do estudo – Diagnóstico

Os resultados do estudo demonstraram uma lacuna significativa entre a alta prevalência da depressão e o baixo conhecimento dos seus sintomas físicos dolorosos nos indivíduos deprimidos. Apesar de 64 por cento ter relatado sintomas físicos dolorosos inexplicáveis entre os sintomas que os levaram a uma consulta médica, 72 por cento desconhecia que estes sintomas físicos dolorosos eram um potencial sintoma de depressão, até ao diagnóstico.

Apesar da alta prevalência de sintomas físicos dolorosos nos doentes com depressão, apenas 38 por cento dos médicos pensa que a sintomatologia dolorosa física indefinida é sempre, ou na maior parte dos casos, um sintoma da depressão, o que significa que, mesmo na comunidade médica, para alguns profissionais de saúde, a associação entre sintomas físicos dolorosos e depressão pode não ser a sua primeira preocupação.


Resultados do estudo – Tratamento

Tanto médicos como doentes exprimiram insatisfação com os actuais tratamentos. Quarenta por cento dos indivíduos com depressão estava não muito satisfeito ou nada satisfeito com o seu tratamento antidepressivo para os sintomas emocionais e físicos. De facto, 74 por cento colocou como hipótese mudar de tratamento se ambos os sintomas, emocionais e físicos, pudessem ser tratados com outra medicação. E, aproximadamente um terço dos médicos manifestava-se não muito satisfeito ou apenas um pouco satisfeito com os antidepressivos disponíveis.

Setenta por cento dos médicos concordou que a falha no tratamento dos sintomas físicos dolorosos da depressão aumenta o risco de recaída. Oitenta e cinco por cento dos médicos concordou ou concordou em absoluto que um doente com depressão consegue a remissão da patologia se ambos os sintomas, emocionais e físicos, forem tratados.

Com base nestes resultados, a World Federation for Mental Health está a desenvolver um programa educacional para pessoas com depressão e para médicos. O objectivo deste programa — lançado no final do ano passado — é aumentar o conhecimento sobre os sintomas emocionais e físicos dolorosos da depressão entre doentes e médicos, na esperança de melhorar o diagnóstico em todo o mundo, bem como o tratamento e taxas de recuperação.


Sobre a WFMH

A WFMH é uma organização internacional interdisciplinar cuja missão é promover, entre todas as pessoas e nações, o mais elevado nível de conhecimento possível sobre a saúde mental nos seus aspectos biológicos, médicos, educacionais e sociais. O estatuto de consultor nas Nações Unidas proporciona à WFMH uma variedade de oportunidades para englobar o apoio à saúde mental num nível global, trabalhando em proximidade com a Organização Mundial da Saúde, a UNESCO, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Organização Internacional do Trabalho, entre outras.

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