Publicada em 10/12/2007 às 17h38m
RIO - O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, publicou nesta segunda-feira em seu ex-blog (informativo enviado para uma lista de e-mails) uma sequência de mais de 20 fotografias de cadáveres e de material apreendido pela polícia tiradas, supostamente, durante uma mega-operação policial no Complexo do Alemão , ocorrida em Junho, que deixou 19 mortos . As imagens, segundo o prefeito, estariam sendo divulgadas por policiais pela Internet. Elas mostram corpos ensanguentados, com marcas de tiros e olhos revirados, retorcidos ao chão. Pelo menos outras duas páginas na Internet também trazem o registro da operação.
O GLOBO ONLINE optou por não divulgar fotos dos cadáveres, por julgar que as imagens não acrescentam informações à reportagem.
A Corregedoria da Polícia Militar vai abrir uma investigação para apurar o suposto vazamento das fotografias. O primeiro passo será ouvir o comandante que chefiou a ação e checar se houve participação de policiais militares na divulgação das imagens. De acordo com o corregedor, coronel Paulo Ricardo Paul, caso haja indícios de conivência de policiais militares na divulgação das fotografias, será aberto um inquérito policial militar.
" A divulgação de qualquer imagem de uma operação policial é ilegal "
- Vamos investigar. A divulgação de qualquer imagem de uma operação policial é ilegal. Muitas vezes, elas são fotografadas para servir como material de instrução e aprimoramento de novas ações, mas nunca podem ser usadas irresponsavelmente. Se aparecerem indícios de que algum policial militar tirou aquelas fotos ou as divulgou sem autorização, vamos abrir um inquérito e punir. Quero saber quem tirou as fotos, quando tirou, em qual operação e quais os batalhões que participaram dessa ação - detalhou o coronel, ao tomar conhecimento das imagens pela equipe de reportagem.
O GLOBO ONLINE entrou em contacto com Cesar Maia por e-mail. O prefeito reiterou que as imagens foram enviadas por policiais, de quem, segundo ele, costuma receber informações pela Internet. Cesar contou ter repassado o material para as 24 mil pessoas que constam na sua lista de contactos. Perguntado se é a favor de que fotos como essas tornem-se públicas, ele se resguardou: "Numa rede fechada é diferente de um meio de comunicação".
O comandante do 16º BPM (Olaria), coronel Marcus Jardim, participou da operação no Alemão e alegou que as fotografias podem ter sido tiradas pela imprensa.
- Às vezes é até necessário a Polícia Militar fotografar, mas, nessa operação, até aonde eu sei, agentes da PM não fotografaram nada - afirmou o coronel.
Relatório do governo federal apontou indícios de execuções sumáriasNa ocasião da mega-operação, a polícia foi criticada por instituições de defesas dos direitos humanos, que denunciaram indícios de execuções sumárias. Em novembro, uma análise feita pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República nos laudos periciais dos 19 mortos confirmou a acusação. O relatório, de 15 páginas, foi contestado pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e por três peritas estaduais. O documento foi elaborado por um órgão do governo federal, embora ministros e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenham elogiado as ações policiais no Rio.
Depois da divulgação do laudo, o relator da ONU para assuntos de execução sumária, Philip Alston, esteve no Brasil para apurar as mortes no Alemão. Ele foi à sede do SOS Comunidade, onde conversou com 10 parentes de pessoas da favela que morreram durante a ocupação do Complexo. À época da visita do relator ao país, o governador do Rio teria se recusado a receber Alston em sua passagem pelo Rio de Janeiro, apesar de a assessoria do governo ter dito que, na verdade, Cabral não teria recebido qualquer pedido de audiência com Philip Alston.
Em entrevista ao jornal "O Globo" no último domingo, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, condenou o alto número de mortes em operações da polícia do Rio e disse que já conversou sobre isso com Cabral.
- Fizemos uma perícia alternativa (caso do Complexo do Alemão) e foi detectado tiro na nuca. Isso é execução. O governador e o secretário de Segurança Pública, em vez de se irritarem, poderiam dizer que temos duas conclusões diferentes e que, então, vamos fazer uma terceira, por algum organismo internacional. Aí não tem choro - disse.
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