domingo, agosto 26

Proteção da cultura

Proteção da cultura


As estatísticas são estarrecedoras: os crimes resultantes de roubo e furto de bens culturais só perdem para o tráfico de drogas e de armas.
Às vezes, a cotação internacional inflaciona os valores das peças subtraídas de museus, bibliotecas, pinacotecas, arquivos públicos e até residências particulares, sempre miradas pelos autores desses delitos.
Os ladrões, nessa área, seguem caráter de alta seletividade, agindo geralmente sob encomenda, com os objetos surrupiados destinados a um mercado exclusivo.
Os sistemas de segurança que os protegem nem sempre oferecem confiabilidade total, pois estão sujeitos ao manuseio dos próprios agentes operadores no seio dos quais guardiães se transformam em bandidos.
Com a conivência de elementos do público interno, conhecedores dos mecanismos de proteção dos acervos culturais, não há, nesse meio, proteção integral.
O recente furto de 900 cédulas e moedas do Museu do Ipiranga, em São Paulo, denota a fragilidade dos sistemas de vigilância eletrônica, armada, preventiva ou reativa.
Os sofisticados equipamentos de monitoramento do Museu, funcionando dia e noite, não inibiram a ação dos larápios.
Recentemente, o Museu Nacional do Rio de Janeiro viu seu acervo documental ser atingido em cheio pela ação desses vândalos, com a subtração de peças valiosas praticada por grupos jovens, bem informados, circulantes em ambientes sofisticados e até com ligações no exterior. A divulgação ostensiva dos atos de pilantragem inibiu os receptadores desse mercado marginal. O resultado foi o reaparecimento de parte das peças furtadas.
Antes, o Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, fora vítima de idêntica ação criminosa.
O antigo edifício-sede do Ministério das Relações Exteriores, uma construção de meados do século XIX, abriga o Museu Histórico e Diplomático com acervo de seis milhões de documentos sobre as relações exteriores do Brasil como nação.
Nessa massa de papéis públicos, está preservada a documentação do governo português transmigrado para o Brasil, em 1808, trazida por Rodrigo de Souza Coutinho, o conde de Linhares.
No Palácio do Itamaraty, a ação marginal se concentrou especialmente na sua mapoteca, que guarda milhares de mapas geográficos, cartas náuticas, atlas, plantas e desenhos cobrindo todas as regiões.
Os bens culturais são relevantes como signos da evolução dos povos.
No Brasil, esta compreensão não sensibiliza os governantes quando da elaboração dos orçamentos públicos. Uma alternativa para superar a carência de recursos desses órgãos seria a venda ao público interessado dos fac-símiles dos documentos armazenados, a maioria sendo destruída pela ação do tempo, cupins, traças e bolor, sem manuseio ou divulgação.
Igualmente a Igreja Católica se ressente da ação inescrupulosa de pessoas que cobiçam seus objetos sacros, sobretudo imagens de santos, verdadeiras jóias da escultura.
A instituição religiosa, também detentora do maior acervo sobre registros das pessoas naturais, poderia modernizar seus arquivos e democratizar as informações.

diariodonordeste.globo.com/materia

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