Brian de Palma leva os horrores da guerra no Iraque ao Festival de Veneza
VENEZA, Itália, 31 Ago 2007 (AFP) - O cinema americano marcou presença nesta sexta-feira do Festival de Veneza com "Redacted", um filme do mestre do suspense Brian de Palma que causou impacto com suas cenas cruas e fortes sobre os erros cometidos pelas tropas dos Estados Unidos na guerra no Iraque.O filme, que compete com outras 22 produções ao Leão de Ouro, utiliza apenas material sobre a guerra que circula na Internet e constitui uma denúncia dos "danos colaterais" causados pelas tropas americanas ao país árabe."A forma e o estilo do filme foram ditados pelo material que encontramos on-line", declarou o director na colectiva de imprensa.De Palma faz seu filme começar a partir de um elemento verídico: o estupro, em Março de 2006, por parte de uma patrulha de soldados americanos de um adolescente iraquiana de 14 anos, que foi em seguida assassinada e incinerada junto com toda a família."De novo uma guerra insensata produziu uma tragédia insensata", declarou o veterano director americano, que há 18 anos, através de "Pecados de guerra", denunciou os horrores do Vietnã.Realizado com um estilo muito actual, o filme mescla documentário com obra de ficção, cenas tiradas dos sites árabes da Internet assim como do portal Youtube, execuções verdadeiras com fictícias, imagens dos noticiários de TV e dos "blog" dos soldados americanos."Redacted", que é a fórmula empregada pelos de comunicação para "limpar" as imagens mais cruéis da guerra de maneira que não choquem o público e não dêem base para denúncias legais, deixa atônito o espectador no final quando apresenta uma série de fotografias de vítimas civis: crianças, mulheres grávidas e idosos.É sólida a reconstrução da vida cotidiana dos soldados americanos, muito deles de origem hispânica, a maioria garotos assustados, que, com frequência se drogam para suportar a experiência, conscientes da inutilidade da guerra e que filmam tudo com suas câmaras permanentemente conectadas à Internet.De Palma se serve dessas imagens para denunciar que os meios de comunicação se auto censuram e estão a serviço do poder."Esta guerra acabará quando as fotografias, suas imagens, chegarem a um público mais amplo. Porque estão à disposição de todo o mundo, mas os meios de comunicação não as utilizam alegando vínculos legais", declarou De Palma.O novo filme de De Palma será distribuído pela Magnolia Pictures em salas de cinema independentes."É um filme doloroso, terrível", admitiu De Palma, que espera que a pressão da opinião consiga a retirada dos soldados americanos do Iraque.Durante o terceiro dia do festival também foi projetado outro filme de denúncia americano, "Michael Clayton", de Tony Gilroy, com George Clooney no papel de um advogado que defende uma multinacional de produtos químicos acusada de envenenar as pessoas.Clooney, que sempre seduz o público com sua disponibilidade e suas posições políticas democráticas, desta vez não pôde esconder sua contrariedade por uma pergunta de carácter ético sobre o fato de denunciar as multinacionais em um filme e, ao mesmo tempo, protagonizar a propaganda de seus produtos na vida real."Sua pergunta é irritante, não tenho uma resposta", afirmou, com tom aborrecido.
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