quinta-feira, janeiro 10

Minha Pátria é Minha Língua- BR


Voltei de minhas férias.

Já estava com saudades de nosso convívio aqui no blog. Viajei e tenho muita coisa para analisar a respeito do que observei, mas hoje quero comentar um texto que saiu na Folha ontem, escrito pelo Ruy Castro. O título é “De volta à sala de aula” e faz menção a quatro atividades que ele considera essenciais em sala de aula e que foram abandonadas.
São elas: leitura em voz alta, ditado, cópia e redação.

Ele tem razão: a maioria das escolas não pratica cotidianamente
essas atividades.
Muitos educadores as consideram obsoletas e contrárias às novas teorias pedagógicas ou as identificam com o período em que o ensino era rígido e automatizado.

Acontece que, se pensarmos bem, alguma coisa não deu certo nas mudanças de metodologia que a escola realizou no ensino da Língua
Portuguesa já que as pesquisas constatam – professores universitários também – que ela não tem sido bem aprendida pelos alunos.
Qualquer um de nós percebe isso.

Uma amiga, professora de cursos de graduação, contou que fica
horrorizada ao corrigir as provas de seus alunos porque escrevem tão mal que ela não consegue entender os pensamentos que queriam expressar.

O cotidiano escolar é feito de rituais.
A leitura em voz alta, por exemplo, pode ser um desses rituais que introduz os alunos no horário dedicado ao estudo.
Ao chegarem à escola eles estão dispersos, ocupados com muitos assuntos extra-escolares, agitados e ruidosos. Se o professor dedica o período inicial da aula para ler para seus alunos – inclusive alguns clássicos da literatura –, além de estimular o gosto pela
“educa o ouvido”, instaura o silêncio e a concentração,
ensina na prática o uso da vírgula e da respiração na fala e, de quebra,
organiza a disciplina em sala de aula.

Conheço vários professores que usam esse ritual no início da aula e logo após o horário do recreio.
Todos são unânimes em relação aos ótimos resultados conseguidos: os alunos aprendem a gostar de ler – muitos não conseguem esperar pela leitura do próximo trecho e arrumam o livro para ler em casa – se concentram mais e falam bem melhor.
Aliás, o uso do dicionário logo após a leitura é outra prática que esses professores adotam e que também é um excelente recurso para aprimorar o uso da língua.

Afinal, como disse Manoel de Barros, “É preciso saber errar bem o Português”, ou seja, é necessário conhecer bem a norma culta para, depois, poder contrariá-la.

Para finalizar, um alimento a respeito do assunto: a letra de “Língua”, de Caetano Veloso.

Língua Caetano Veloso

Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores E furtem cores como camaleões Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa E
sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua

"Minha pátria é minha língua"
Fala mangueira!
Fala!
Flor do Lácio Sambódromo

Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Vamos na velô da dicção choo choo de Carmen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em à De coisas como
Rã e Imã Nomes de nomes
Como Scarlet Moon Chevalier Glauco
Matoso e Arrigo Barnabé e maria da Fé e Arrigo barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?
Incrível
É melhor fazer um
Está provado que só é possível Filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível

Filosofar em alemão Blitz quer dizer corísco
Hollyood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo Meu medo!
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
E quero frátria Poesia concreta e prosa caótica

Ótica futura
Samba -rap, chic-left com banana
Será que ela está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô você e tu lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro
Nós canto-falamos como que inveja negros
Que sofrem horrores no gueto do Harlem

Lívros, discos, vídeos à mancheia
E deixe que digam, que pensem e que falem

Escrito por Rosely Sayão- BR

Sem comentários: