sexta-feira, outubro 5

A luta final de Che Guevara


A luta final de Che
Nas selvas da Bolívia, o revolucionário argentino de alma cubana morreu isolado, doente, faminto e maltrapilho. Mas fiel aos princípios revolucionários em que acreditava
Celso Miranda e Giovana Sanchez

Uma das últimas fotos de Che (destaque), feita dias antes de sua captura




Já era tarde da noite de 3 de novembro de 1966 quando o diplomata Adolfo Mena González, de 38 anos, calvo e barrigudo, chegou ao aeroporto de La Paz, na Bolívia.

Cansado da longa viagem - havia passado por Moscou, Praga, Viena, Frankfurt, Paris, Madri e São Paulo, como mostrava seu passaporte uruguaio -, declarou aos fiscais da imigração que pretendia levantar dados para a Organização dos Estados Americanos.




Liberado, seguiu para o centro da capital, onde se hospedou numa suíte do Hotel Copacabana. Ali conheceu os irmãos bolivianos Guido e Roberto Peredo e com eles partiu de avião para Cochabamba, a 800 quilômetros de La Paz. Depois de mais três dias de viagem de jipe, chegou às margens do rio Ñancahuazú. Em 7 de novembro, escreveu em seu diário: "Hoje começa uma nova etapa". Só então revelou sua verdadeira identidade: González era, na verdade, o guerrilheiro Ernesto Che Guevara.Depois de ter levado a Revolução Cubana à vitória em 1959, ao lado de Fidel e Raúl Castro, Che se dedicara a espalhar ideais revolucionários pelo mundo.



"Ele esteve no Congo em 1964, onde experimentou um terrível revés, e, de volta a Cuba, entrou na clandestinidade para trabalhar secretamente em seus novos planos: criar na América Latina um foco guerrilheiro que pudesse convulsionar todo o continente", diz o historiador mexicano Jorge Castañeda em Che Guevara
- A Vida em Vermelho. "Na época, a América Latina parecia um grande tabuleiro da Guerra Fria, onde ondas de inspiração comunista esbarravam em ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos."


A Bolívia não fugia à regra. Em 1964, depois de duas décadas de instabilidade (em que sindicatos, Exército e latifundiários se digladiaram pelo poder), um golpe pôs no governo o general René Barrientos.



A Bolívia se tornou, então, um notório aliado dos Estados Unidos - naquela época, em termos de ajuda militar americana, o país só perdia para Israel.
Era a nação mais pobre da América depois do Haiti.
Repressão, pobreza, presença imperialista: segundo as concepções políticas de Che, a Bolívia era perfeita para uma nova vitória revolucionária.
Para colocar a teoria em prática, entretanto, era preciso recrutar uma equipe. Em julho de 1966, enquanto Che permanecia incógnito, Raúl Castro, comandante das Forças Armadas de Cuba, convocou alguns veteranos da Revolução Cubana.
O capitão Harry Villegas Tamayo, o Pombo, estava presente e relembrou a cena em 2006, numa entrevista à rrevista chilena Punto Final.


"Raúl disse que havíamos sido chamados para integrar uma Brigada Internacional de Combatentes pela Liberdade dos Povos", afirmou.
"A resposta foi um unânime 'eu vou!"
A tropa de elite passou por três meses de treinamento.
Depois, todos seguiram por caminhos diferentes para a América do Sul.
Já Che precisava de um bom disfarce para conseguir chegar à Bolívia sem ser notado. Cortou o cabelo e a barba, adotou óculos de lentes grossas e colocou uma prótese dentária que mudou sua fisionomia e sua voz. No fim de outubro, visitou sua família pela última vez em Havana. Jantou com as filhas, apresentado a elas como "tio Ramón". O disfarce funcionou - as meninas só saberiam que aquele era seu pai depois de receber a notícia de sua morte.


Bem-vindo à selvaA região do rio Ñancahuazú é coberta por uma mata densa, cortada por córregos e mangues. De repente, erguem-se elevadas montanhas ou abrem-se crateras e desfiladeiros, chamados na região de quebradas.
Foi às margens das águas barrentas do Ñancahuazú que Che encontrou pela primeira vez sua tropa, instalada num sítio que haviam comprado na região para servir de disfarce temporário.
Eram apenas 13 homens, entre veteranos cubanos e jovens bolivianos.

Leia a continuação, clicando na foto de Che Guevara no mato.

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