Dia do padroeiro dos HUC marcado por “nuvens negras”
Escrito por Rui Avelar
03-Out-2007
Angústia é a palavra que melhor exprime o estado de alma de boa parte dos servidores dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), entre médicos, enfermeiros, paramédicos e outros trabalhadores.
Entre os rumores estimulados pelo silêncio sobre o futuro avultam o da dispensa de perto de 500 trabalhadores, alienação (total ou parcial) do Bloco de Celas, redução de 50 camas em Ortopedia, desaparecimento de um dos três serviços de Cirurgia, cortes na Cirurgia vascular e na Cirurgia plástica e ameaça de extinção da Unidade de Tumores Ósseos.
Será o momento em que, segunda-feira, por ocasião da comemoração do dia de São Jerónimo, o auditório principal ficou às escuras prenúncio de um futuro sombrio para os HUC?
A avaliar pelas desconfianças evidenciadas há meses a esta parte e pelo semblante de vários directores e chefes de serviços, o inesperado «apagão» registado quando o ministro da Saúde discursava por ocasião da comemoração do dia do padroeiro dos Hospitais da Universidade de Coimbra ameaça ser portador de um preocupante simbolismo.
Um boato sobre o eventual fecho do Bloco de Celas, contrariado há um mês pelo presidente do Conselho de Administração (CA), Fernando Regateiro, continua a deixar muita gente apreensiva.
Ao rumor surge associada a hipótese de o espaço a Nascente da avenida de Bissaya Barreto vir a ser destinado a um hotel.
Sobre a Ortopedia paira o cenário de presumível redução de 50 camas, a par da ameaça de extinção da Unidade de Tumores Ósseos.
Horas depois de o ministro António Correia de Campos ter presidido às comemorações do dia de São Jerónimo, o médico João Serpa Oliva, enquanto membro da Assembleia Municipal de Coimbra, alertou para as «nuvens negras» no horizonte dos HUC.
O ortopedista e autarca defendeu que outro médico e igualmente autarca, o psiquiatra António Reis Marques (com assento no Conselho Geral da instituição da praceta de Carlos Mota Pinto), obtenha esclarecimentos sobre o futuro dos Hospitais para elucidar a Assembleia Municipal.
Entre os rumores que começaram por preocupar os profissionais dos HUC e já inquietam conimbricenses e outros cidadãos contam-se o da eventual extinção de um dos três serviços de Cirurgia e presumíveis cortes na Cirurgia vascular e na Cirurgia plástica.
Maternidade irá mudar de poiso?
Fontes auscultadas pelo “Campeão” aludem a cerca de 300 camas vagas diariamente no edifício da praceta de Mota Pinto e há quem encare essa situação como trampolim para a transferência para esse local da Maternidade de Daniel de Matos (a funcionar na rua de Miguel Torga).
Neste contexto, surgiu recentemente um Movimento de Utentes pelos HUC, cujos fundadores exortam à participação cívica como forma de combater os receios sobre o futuro da instituição.
“A par da asfixia financeira, com o processo acelerado de empresarialização [inerente à mudança de modelo societário para Entidade Pública Empresarial (EPE)] está a ser posta em causa a continuidade de serviços, havendo sinais que apontam para o desmantelamento de blocos inteiros”, relata o texto de apresentação do Movimento de Utentes.
Segundo este organismo, trata-se de um “processo que não pode ser desligado do plano mais geral de degradação do Serviço Nacional de Saúde” (SNS).
Por outro lado, o director do Serviço de Cardiologia, Luís Providência, queixa-se da falta de sete médicos num desejável universo de 30, lacuna sentida há perto de uma década, e também reclama outra sala de hemodinâmica.
Competição impossível
Apesar de possuírem mais camas e de registarem maior movimento de doentes em internamento e em cirurgias, os HUC são contemplados com uma dotação bastante inferior à do Hospital de Santa Maria (Lisboa) e à do de São João (Porto), três unidades vocacionadas para o ensino da Medicina.
Mais de metade do orçamento dos Hospitais da Universidade de Coimbra é para os encargos com pessoal e perto de um terço destina-se à compra de medicamentos.
“É impossível um hospital dedicado ao ensino poder aspirar a competir numa lógica empresarial com os que não possuem essa vocação”, declarou ao nosso Jornal um director de serviço dos HUC.
Neste contexto, outras fontes apontam o dedo à Faculdade de Medicina de Coimbra alegando que ela tem prestado pouca atenção a disciplinas básicas como a Anatomia, Biologia molecular, Fisiologia e Microbiologia.
“Hoje em dia, a base científica da Medicina moderna é a Biologia molecular”, comentou um médico.
Em declarações aos jornalistas, o ministro Correia de Campos acenou com medidas destinadas a incentivar o trabalho dos médicos à margem do SNS.
O governante defendeu a ocupação a tempo parcial “para honrar a verdade das presenças efectivas”, querendo com isto significar que o livro de ponto camufla a falta de assiduidade de alguns clínicos.
“Vamos convidar as pessoas a juntarem-se para tomar conta de meios e de recursos existentes”, disse o ministro, que, por outro lado, acenou aos médicos cujos horários são repartidos entre os hospitais públicos e as clínicas privadas com a possibilidade de reduzirem o tempo no SNS sem quebrar o vínculo e a contribuição para a reforma.
Neste contexto, insurgiu-se contra a “contemporização com esquemas destinados a melhorar a remuneração”.
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Aonde vai parar este País? Estamos a andar para trás?
Faz-me recordar os tempos da ditadura Salazarista!
Será que o povo vai permitir que tal aconteça?Já se esqueceram o que é viver numa ditadura?
São os "Grandes" que decidem e ponto final? Aqueles mesmos, que foram eleitos, por um povo democraticamente?
Estou abismada com o que se está a passar em Portugal e, nada vejo, para que a situação se transforme para um caminho devidamente democrático!
Se não for o povo a tomar consciência e voltar à luta dos direitos que a Constituição nos dá, estaremos a entregar o ouro aos bandidos.
A Luta Continua, Portugal pertence ao seu povo e não a um Partido ou pessoa.Não pode ser só os médico e restante equipa a reclamar, assim como não pode ser só os
conimbricenses a fazê-lo, mas sim o País inteiro, pois prejudicará a todos.
Madalena Gouvêa Lemos
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