quarta-feira, outubro 8

Moçambique é o maior corredor de drogas da África Austral

PRG e Ministério do Interior há muito que sabem disso…

Stevem Russel ex-agente da «Scorpions» e colaborador da «Scotland Yard» considera Moçambique como o maior grande corredor de drogas da África Austral. Russel fez parte da equipe que desmantelou a fábrica de comprimidos de «mandrax», no famoso caso «Plasmex»

Luís Nhachote, em Joanesburgo

Os contornos do narcotráfico "diplomático" em Moçambique, podem ter dimensões muito maiores do que alguma vez alguém tenha pensado. Considerável parte dos ascendentes impérios de certas figuras de comunidades de origem asiática em Moçambique, em estonteante superabundância, sobretudo nas cidades de Maputo e Nampula, podem ter como fonte o narcotráfico de «mandrax», também conhecido por «MX», segundo dados revelados ao ZAMBEZE, por ex-investigador dos «Scorpions» e hoje na «Scotland Yard», que falou a esta semanário esta segunda-feira, em Joanesburgo.
Steven Russel, de seu nome, já esteve no nosso país, por três vezes, para desmistificar os contornos do tráfico de droga, segundo ele, "liderado por parte da comunidade asiática em Moçambique".
Russel fez parte da equipa que desmantelou a fábrica de «mandrax», no caso «Plasmex».
Mas sem mais delongas, vamos directamente ao factos e às informações documentais da «Interpol» (Polícia Internacional) e da «Scotland Yard», serviços de inteligência britânica especializados na investigação de crimes de dimensões diversas – que de algum tempo a esta parte andam e continuam a investigar o trafico de drogas que circulam por Moçambique, tido por Stevem Russel, como "o maior corredor de drogas da África Austral".

Stevem Russel, sem evasivas e receio, relata 1ª viagem a Moçambique

Encontrámo-lo, em Branfoontein, no Hotel «Parkitoniam», conforme o combinado. Eram 9 horas e 36 minutos quando ele chegou. Trajava umas «Jeans» pretas, camiseta branca e um jacket preto. Calçava umas texanas pretas. Foi Brian Kubwalo (NR: o jornalista investigativo e co-autor da peça da semana passada), quem nos introduziu, antes de partir para outra investigação jornalística em que está envolvido.
Steven Russel começou por dizer ao ZAMBEZE que a primeira vez que esteve em Moçambique, ao serviço da polícia sul-africana e da Interpol, foi em 1993. Segundo ele, as unidades policiais referidas, preocupadas com as enormes quantidades de «mandrax» que estavam a circular nas "bocas de fumo" e nas "Colômbias" sul-africanas, após aturada investigação, concluíram que as mesmas estavam a vir de Moçambique.
"Fomos a Nacala onde tinham acabado de ser exportadas 80 toneladas de «haxixe» com destino a Amesterdão, na Holanda. Quem estava envolvido nisto era um grande comercial do norte ligado a um empresário de Portugal conhecido pelo apelido de Jussub. A droga vinha do Paquistão com trânsito por Moçambique para empacotamento como se fosse chá."

Manuel António foi informado

Segundo a fonte, ambos serviços envolvidos nesta investigação transnacional produziram um relatório e uma cópia foi entregue ao então ministro do Interior, Manuel António, presentemente a residir na Beira.
"Não sabemos que tratamento ele deu às informações, mas ficámos de consciência tranquila porque fizemos o que devia ser feito" disse Russel ao ZAMBEZE.

Segunda viagem a Moçambique

Após a primeira denúncia das polícias da Swazilândia e da África do Sul (ver edição da semana passada), a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique – na altura o PGR era o Dr. Sinai Nhatitima – "a qual se remeteu a um estranho silêncio" sobre o intricado dossier, Stevem Russel e a sua equipe regressam a Moçambique entre 1999-2000. Estiveram quatro meses em Maputo, onde investigaram e concluíram que na capital Moçambicana já se estava a produzir «mandrax», o que quer dizer que já não era preciso esperar pelo que vinha da Índia. "Estamos a falar da fábrica «Plasmex»". Foram as unidades policiais da polícia sul-africana e da Interpol, segundo Russel, com algum apoio da autoridades moçambicanas que a desmantelaram, o tal caso na época que alimentou páginas de jornais.
Mas, segundo Russel conta, foi através de informações de vários narcotraficantes detidos - na África do Sul - que eles não tiveram dúvidas de que tal fabrica existia.
"As quantidades de «mx» tinham aumentado, foi dai que a nossa policia desconfiou que alguma coisa em Moçambique estava a acontecer, detemos vários pessoas e foram estas que confessaram que em Moçambique havia uma fabrica de comprimidos «mandrax»".
"Desloquei-me a Maputo com uma equipa de 16 elementos e conseguimos desmantelar a fábrica, apesar de alguma resistência de algumas pessoas das autoridades moçambicanas. Mas ate agora não sabemos o paradeiro daquela maquina, uns dizem que o vosso antigo ministro do Interior, Almerino Manheje é que poderá explicar o que foi feito dela. Em termos normais, logo após a apreensão da maquinaria tinha que ser destruída publicamente, mas as autoridades moçambicanas não o fizeram".


Terceira vez em Moçambique

A terceira vez que Steven Russel esteve em Moçambique, foi por parte da «Scotland Yard» envolvido numa investigação transnacional para perceberem como alguns empresários da comunidade asiática estavam a enriquecer por negócios de droga. Nesta viagem, em 2006, diz ter ficou três meses em Moçambique, hospedado nos hotéis Polana, Vip, 2001 e na residencial Kaya Kwanga.
Neste trabalho ele tinha 4 nomes a investigar: 1.Umar Abdul Sakoor Surathia (para ver se este ainda continuava no narcotráfico de «mx»), 2.Rafik Abdul Satar, proprietário da casa de câmbios -Real Câmbios/, na Vladimir Lenine – ligado ao cônsul da Sycheles em Portugal; 3.Fakuk Ayoob, cunhado de Umar Surathia; e 4.Jassat Hamade, aparentemente ligado a um tal de Zamba Zamba, um narcotraficante alegadamente residente na Swazilândia.

Notas biográficas de Umar Surathia

O ZAMBEZE tentou perceber com Russel, o percurso de Umar Surathia. Ele disse que a Interpol fez um relatório, após uma aturada investigação sobre o passado e o presente de Umar Surathia.
O Zambeze está na posse do relatório que aliás circula na internet desde 1995, e pode ser obtido na íntegra ao preço de 3 dólares americanos, via pagamento bancário (Ver http://www.manupatrainternational.in/supremecourt/1980-2000/sc1999/0526s990348.htm).
O agente que estamos a citar disse a este semanário que em 1992, quando ainda trabalhava na policia sul-africana, eles receberam várias denuncias de que um jovem indiano de 25 anos era o mais rico em Moçambique. Disse-nos tratar-se de "Omar, da «Miami Fashion House» que exportava cerca de 2 milhões de comprimidos por semana" para a África do Sul. Mas na altura, as autoridades moçambicanas não estavam interessadas a investigar a vida do «Omar da MFH».
No relatório a que tivemos acesso Lê-se: "Umar Abdul Shakoor Sorathia nasceu em Mumbra, Índia, em 1967. Ele é de uma família pobre e seu pai morreu quando Umar era muito novo. Ele não estudou propriamente e deixou a escola com a idade de 15 anos. Ele tem três irmãs e nenhum irmão. Duas das suas irmãs vivem em Maputo. Ambas são casadas. A sua terceira irmã vive na Swazilândia e o seu cunhado, sr. Anees opera a Phonenix Electronics".
O ZAMBEZE apurou que o seu cunhado e a irmã que viviam no reino da Swazilândia estão a viver, agora, em Londres, e a «Scotland Yard» que está a fazer as suas investigações no narcotráfico "diplomático" investigou a vida "deste cunhado" e "concluiu" que "leva uma vida pacata".
As duas irmãs de Umar Surathia em Moçambique são casadas com os senhores Faruk Abdul Carimo, pessoa modesta e de poucas posses e outra, esta casada com Faruk Ayoob, proprietário da «Ayoob Comercial» que se dedica à venda de brinquedos e está situada na avenida Albert Lithuli, na baixa da cidade.
Em pouco tempo começou a prosperar de forma rápida e hoje já é dono de imóveis de fazer inveja a qualquer empresário. Recentemente terá adquirido os hotéis «Terminus», na Av. Armando Tivane, e «Monte Carlo», na Av. Patrice Lumumba, ambos até aí propriedade da British Michcoma, transaccionados por largos milhões de dólares americanos.
O relatório da Interpol explica entretanto como o actual cônsul honorário das Syshelles em Moçambique começou a sua odisseia. "Depois de pedir emprestado dinheiro para uma passagem aérea, Umar imediatamente partiu para Maputo, Moçambique, com a idade de 15 anos, onde o seu cunhado, Faruk Carimo, operava uma pequena loja de têxteis, chamada «Armazéns Esperança». Ele trabalhou lá durante um curto período de tempo e então abandonou, concluindo que para se tornar rico rapidamente ele deveria tomar alguns grandes riscos na vida".

A admiração de Umar Surathia

Refere ainda o relatório da Interpol que "Umar estava admirado com os enormes lucros que pessoas faziam na exportação de comprimidos de «mandrax» da Índia para a África do Sul. Com poucos regulamentos de segurança em muitos países de África, ele concluiu que esta era a sua oportunidade para fazer-se grande rapidamente".
"Em 1995", refere o relatório que temos vindo a citar, "a sua fortuna estava avaliada em mais de 200 mil de corror-rupias ou seja 200 mil milhões de rupias. (NR: Um corror é um milhão de rupias. Um lack são cem mil rupias). 200 mil de corror-rupias eram 800 milhões de usd segundo o cambio da altura em que a Interpol fez o relatório…"equivalente a cerca de 800 milhões de dólares!!!."
"Ele tem propriedades bem conhecidas em Moçambique, Londres, Portugal, Bombay e Dubai e tem um poder de compra ilimitado no seu cartão Gold da «American Express». Esse cartão é só atribuído a multimilionários, segundo apurou o ZAMBEZE, uma conta bancária com o saldo mínimo de 1 milhão de dólares.
Nesse relatório, que pode ser obtido por três dólares americanos ($US 3,00), está expresso taxativamente que "depois de largar o emprego no cunhado, começou a importar pequenas quantidades de «mandrax» por via aérea".
A "ambição de Umar Surathia foi crescendo" conforme refere o relatório da Interpol. "Ele começou neste caminho de enriquecimento através do arranjo de despacho seguro de pequenas quantidades de comprimidos de «mandrax» em Maputo, que lhe eram enviadas da Índia por avião. Por fazer isto, ao Umar foi permitido ficar com 20% do rendimento da venda dos comprimidos de mandrax que ele passava a compradores que vinham da África do Sul. Os outros 80% do rendimento do que colocava no mercado, tinha de pagar aos fornecedores". "Mas Umar não estava feliz com isto; ele queria exportar da Índia e também, fazer o despacho e venda ele próprio na África do Sul para ganhar lucros maiores".
Assim, então, ele começou por comprar 50.000 comprimidos de «mandrax» por um lack (três mil usd).
Os comprimidos de «mandrax» da Índia passaram a ser despachados por ele próprio em Maputo, refere a Interpol. Os despachos aduaneiros eram tratados por ele tanto quando as encomendas chegassem por mar como por via aérea. Umar tinha a infra-estrutura necessária para despachar os comprimidos de mandrax. O seu escritório e balcão no aeroporto eram uma boa capa para frequentemente visitar o Aeroporto Internacional e despachar as drogas com segurança, afirmam as policias que acrescentam que Umar também tinha uma licença para despachar bens e contentores na «Miami Sea-Port» e este é o canal principal que ele usaria para importar enormes quantidades de comprimidos de «mandrax para Moçambique e depois para a África do Sul".
Nos anos noventa conforme refere o relatório policial, "Umar importava contentores com comprimidos de «mandrax» escondidos nestes e estes tem sido despachados pela sua própria companhia no porto de Maputo. Cada contentor em media tem 20 lakhs – dois milhões de comprimidos de mandrax. Estes são então levados para fora e armazenados nos seus três armazéns secretos usados para este fim. Com a ajuda de correios Umar organiza o envio de 50.000 comprimidos de mandrax em cada viagem para Cape Town, África do Sul escondendo-os em compartimentos secretos dos carros".
"A maior parte do comprimidos era exportada para swazilândia e os grandes dealers iam lá e pagavam".
"O preço conseguido é dez vezes mais que o preço original" refere e Interpol que, mais adiante, acrescenta que "acredita-se que nenhum outro homem tem a capacidade de exportar drogas da Índia, despachá-las em Maputo e entregá-las no seu destino final na África do Sul".
Acrescenta a polícia que "muitos compradores de Mandrax na África do Sul preferem receber os comprimidos e fazer pagamentos na Swazilândia porque isto elimina duas travessias extras de fronteira, para Moçambique e regresso. Umar tem um bom controle no Aeroporto Internacional da Swazilândia, o que torna fácil para ele levar dólares e rands de regresso a Maputo".

A construção do império da MFH

Refere a Interpol que na época da ascensão do seu império ele se tornou dono e PCA da «Miami» Grupo de empresas, "que inclui a Miami Stores, Miami Travel and Tours, Miami Exchange, Miami Bricks, Taj mahal Hotel, Miami Fashion House e muitas outras companhias em Moçambique e no exterior".

O braço direito de Umar

O explosivo relatório da Interpol vai muito mais longe. Chega ao seu suposto braço direito, isto é o seu homem de confiança. Assim lê-se ainda no documento que "o homem que manejava as actividades portuárias, incluindo despacho, armazenamento, etc., é um moçambicano local chamado de sr. Valjy Tavabo. Ele é bem pago por Umar porque ele carrega com os riscos. O facto do governo de Moçambique ter dado uma licença de despacho a Umar torna o trabalho de Valjy mais fácil porque ele pode ir a qualquer lado no porto. Ele equipou a sua organização com os últimos conjuntos de rádios de comunicação sem fio, telefones via satélite, dispositivos contra escutas, etc., para tornar o despacho tão suave quanto possível".

Lavagem de dinheiro

"Um dos problemas que os traficantes de droga enfrentam na África do Sul é actualmente converter os rands em dólares e levá-los para fora do país. Leva qualquer coisa como três meses a transferir dinheiro por Money laudring (lavagem de dinheiro) e alcançar Dubai a partir da África do Sul e a diferença entre o dinheiro lavado, e o cambio oficial é de cerca de 20%. Umar encontrou um meio para resolver este problema. Ele obteve uma licença para abrir a Miami Exchange em Maputo, onde estrangeiros podem cambiar os seus dólares, etc., pela moeda local. O que Umar faz é que ele obtém uma lista do aeroporto de todos os estrangeiros vindos para o país e uma mínima quantia sob cada um dos nomes é exibida, como se eles tivessem cambiado através dele – este dinheiro e então transferido para fora do país legalmente", considera a Interpol.

Interceptado com 1 milhão de dólares "vivos"

De acordo com o documento de fazer bradar os céus, em 1994, "Umar foi detido na posse de 1 milhão de dólares, vivo e alguns rands sul-africanos também numa mala no aeroporto internacional de Joanesburgo". Na altura o aeroporto chamava-se Jam Smuts. Hoje tem o nome de Oliver Thambo. "Ele foi deixado livre através do pagamento de uma multa porque ele mostrou recibos falsos da «Miami Exchange House Câmbios» – para justificar os USD 1.000.000,00".

1 milhão de dólares para ser cônsul da Libéria

O relatório da Interpol diz também que Umar pagou na altura "cerca de USD 1000000,00 para ser nomeado «diplomata» e obter um passaporte diplomático para ser nomeado Cônsul Geral da Libéria em Maputo".
"Um consulado tinha sido aberto em Maputo e agora Umar viaja para a Índia somente com o passaporte diplomático liberiano. Umar não dá a ninguém o seu endereço verdadeiro em Bombay. Ele fica numa grande flat em Sagar Rsham, Bandra West, Bombay, que é avaliado em mais de 900 mil dólares, numa zona chique de Bombay", diz a Interpol.
Nessa zona vivem actores de cinema com estatuto de Amitha Badjane, Darmedra e Hemamali.

Os fabulosos lucros de mandrax

No relatório da Interpol, esta polícia diz que cada comprimido na Índia, custava menos de 1 rupia e que esse mesmo comprimido era vendido pelo equivalente a 60 rupias, na África do Sul.
A policia da Índia na altura acreditava que 55% da droga era exportada para África. "O sr. Raymond E. Kendall, Secretario-geral da ICPO-Interpol na véspera da 13.ª Assembleia Geral da Interpol que teve lugar em Nova Deli disse que 80% do crime cometido em países consumidores estava ligado ao tráfico de drogas e na maioria dos países consumidores 50% do orçamento das agências policiais era usado no controle do tráfico de drogas. Ele disse mais: que o que realmente preocupa é a corrupção e a cumplicidade que os traficantes de droga trouxeram para instituições como a banca, administração pública e aos níveis políticos para verem o seu dinheiro ilegal ser canalizado. Lavagem de dinheiro através de instituições financeiras era notada frequentemente. Mais de USD 100 biliões dos USD 400 biliões do rendimento do tráfico de drogas estava circulando no sistema comercial internacional", comenta a Interpol.

Força do dinheiro

"Esta força do dinheiro vai ultimamente ser usada para controlar o governo do dia, como temos visto em alguns países da América Latina e África resultando em subversão do tecido democrático da nossa sociedade. É tempo das agências policiais tomarem nota da magnitude do problema e iniciarem contra medidas para conter esta escória que ameaça a humanidade", sugere a Interpol.
De acordo com o operacional da «Scotland Yard», Steven Russel, cerca de 55% do mandrax estava em circulação na SADC, nos anos noventa. Vinha da Índia, e o principal destino era a África do Sul.

Umar protegido pelo governo moçambicano?

Na década 90, Umar Surathia, era bem visto no pais, como um empresário próspero. Segundo o agente da extinta «Scorpions», Umar Surathia, ou Omar da «Miami Fashion House» chegou a apoiar a campanha de Joaquim Chissano e do partido Frelimo, nas primeiras eleições gerais, em 1994. Russel não consegue quantificar quanto foi a doação, mas diz que "isso está documentado". "Não me lembro exactamente com quanto ele – Umar – contribuiu".
Curiosamente, foi em Abril de 1994 que a mercadoria de cerca de 2 milhões de comprimidos mandrax foram apreendidos pela policia da swazilandia e esta mesma ía para SA, para a Dynamic Electronics, uma empresa ligada a Umar. As policias Sul-Africana e da Swazilandia, na altura reportaram ao Estado moçambicano que esse mercadoria pertencia a Umar, mas as autoridades nada fizeram para apoiar as suas congéneres. A Interpol ficou desapontada até que Umar veio a ser preso na índia.

Brigas entre compadres

Para a compreensão dos contornos transnacionais do narcotráfico, o ZAMBEZE – durante as oito semanas que este trabalho esteve sob investigação – contactou, o jornalista investigativo indiano Yanic Malic. A tentativa foi frutífera. Malic disse ao ZAMBEZE que Umar Surathia era um "king" em Bombay, mas circulava como um homem modesto e visitava constantemente templos religiosos, indo cinco vezes por dia à mesquita, na área onde residia, e era muito conhecido por actores de cinema uma vez que vivia na área deles.
Malic apurou que "Umar Surathia teve grandes desavenças como seu sócio, Khalid Gaswala, um outro narcotraficante conhecido aqui na Índia. Foi ele que denunciou Umar à Interpol da índia. Ele sabia exactamente quando é que Umar vinha para Índia através de informações de Moçambique fornecidas por um dos cunhados de Umar com quem estava, de costas voltada".
Segundo o nosso colega, Yanic Malik "o caso foi reportado na imprensa local e foi dito que Khalid denunciou Umar porque este lhe tinha dado uma "cabeçada" em cerca de 20 milhões de comprimidos mandrax".
Ele terá alegado ao seu sócio que a policia tinha neutralizado esta droga, mas na verdade a policia tinha neutralizado cerca de 2 milhões. Khalid esteve preso em Dubai e mais tarde evadiu-se da cadeia. A policia indiana, segundo Malik, ter-se-á rendindo a Khalid, porque é um homem com muita influência nas hostes da polícia.

Da prisão de Umar à redução do narcotráfico na África do Sul

Na conversa com Steven Russel, ele enfatizou que depois da prisão de Umar Surathia na índia (ver edição passada), o contrabando de mandrax na África do Sul "diminuiu em cerca de 20%". Segundo Russel, "a «Scorpions» estava a seguir o roteiro de "Omar da Miami Fashion House» 2000, e eles receberam informações que Umar Surathia já tinha saído da prisão e que estava em Moçambique levando uma vida simples".
Russel recordou que a policia sul africana enviou a Maputo 4 elementos afectos ao «Office of Series Econimic Ofenses Agengy, que mais tarde passou a chamar-se «Scorpions».
"Ele apuraram que ele já havia vendido uma parte de bens e dedicava-se apenas à agencia de viagens, «Planet Travel Agency», antes chamada «Miami Travel and Tours»".
"Os nossos elementos seguiram todos passos de Umar, durante 20 dias, quase que dormiam fora da casa dele. Nesses dias nada evidenciou que ele estava no narcotráfico.", conta o agente.

O casarão de Umar

Russel disse que entre 2004/5 a «Scorpions» recebeu uma denuncia da policia do Reino da Swazilândia, segundo a qual um traficante conhecido pelo nome Zamba Zamba fazia parte do triângulo "narco", Moçambique, Swazilandia e África do Sul. "Dai aquela unidade começou a investigar a vida daquele e estabeleceu «links» entre este e Umar Surathia e Jassat Hamade, este último um comerciante que actualmente se dedica ao negócio de câmbios e proprietário da Express Câmbios".
"As informações que obtivemos nesta aturada investigação, indicam que Umar Surathia teria adquirido um casarão na avenida F Melo Castro, nr. 20, na zona da Sommerschield, próximo da sede do Comité Central da Frelimo, pelo preço de 500 mil usd. Esse dinheiro, terá sido pago, uma parte em cash e outra em comprimidos de «mandrax»".
A casa, segundo a nossa investigação terá sido construída pelos donos da fabrica «Plasmex», entre 1999-2000.
Na mesma faltavam acabamentos e terá sido negociada pelo ilustre Zamba Zamba da Swazilandia. Quem terá tratado dos documentos e conclusão das obras, aparentemente foi Jassat Hamade. Foi este que fez a entrega da casa pronta a Umar, segundo revelações de Stevem Russel ao ZAMBEZE.
Russel disse ainda que "Hamade é um jovem na casa dos 36-7, que enriqueceu de uma forma estranha. Hoje é dono de muitos investimentos em Moçambique. O seu passado está nos arquivos na «Scorpions» e diz que ele há dez doze anos atrás, vendia carros roubados na África do Sul para Moçambique e estava conectado com o senhor Mendes um grande traficante de drogas e viaturas roubadas que viveu muitos numa cadeia". "Viveu no Soweto".

«Scotland Yard» em Moçambique


Steven Russel, policial há cerca de 30 anos, e há cerca de 18 investigando o narcotráfico, disse a este jornal que convidado pela «Scotland Yard» para vir a Moçambique investigar algumas pessoas que tinham ligações direitas com o Cônsul Honorário da Sychelles (ele já dominava o dossier) e investigar algumas pessoas ligadas o Salim Jussub, Cônsul Honorário em Portugal. A união entre ambos é justificada pelo facto de serem representantes diplomáticos das Syechells em Moçambique e Portugal, respectivamente.
As Syechelles acabam de ser readmitidas na SADC na cimeira acabada de realizar aqui em Joanesburgo.
"Nas investigações que fizemos do trafico de droga em Moçambique, concluímos que até 2002 o trafico de drogas era controlada por cidadãos asiáticos e que a maioria da droga vinha da Índia e do Paquistão. Depois de 2002, com a entrada de muitos cidadãos, sobretudo nigerianos, somalis, abriu-se uma nova rota que parte do Brasil, só que a droga vinda do Brasil já na é mandrax, mas heroína e muitos dedicam-se à importação de mercadorias e a droga vem camuflada. Contratam seres humanos e esses transportam a droga dentro do organismo. Semanalmente são presos entre cinco a seis pessoas no aeroporto de Joanesburgo".

Negócios de Salim Jussub

Dados da «Scotland Yard» referem que os nomes Rafic Abdul Satar, Farook Ayoob, trabalham como capa de Salim Jussub, Cônsul Honorário da Syecheles em Portugal, ligados ao grupo AFRIN. E recordam que o actual Cônsul das Sychelles já esteve preso na África do Sul entre 1999/2000, devido ao narcotráfico".
Segundo Russel "Jussub estava a fazer grandes investimentos através destes individuos. Fui infeliz na investigação, porque a vossa PGR não me apoiou, mandou-me suspender o trabalho, não havia colaboração para poder-se descobrir a proveniência desses avultados investimentos que estavam a fazer em Moçambique. Fiz chegar o trabalho, mas estes não se pronunciaram. Fico com a sensação que as autoridades moçambicanas não tem interesse ou são coniventes com o narcotráfico. Isto foi em 2006".

Apelo ignorado

Depois das denuncias à PGR (1994), o antigo ministro da justiça sul-africano, Dulllah Omar (Janeiro de 1996), disse que uma grande parte do mandrax que estava a ser contrabandeado para o seu país era por seus próprios nacionais com activa conivência de alguns indianos. Ele adiantou que "a Africa do Sul não é o único lugar onde o tráfico de droga pode ser muito lucrativo mas também uma rota de trânsito para outras regiões do mundo. Nós cedo compreendemos que o tráfico de droga, lavagem de dinheiro e comércio de armas para além de outros crimes organizados, constituem uma seria ameaça. Estes crimes são todos transnacionais e nenhum país pode com sucesso combater estes crimes por si só".

Do boom imobiliário aos irmãos "Tiger"

Stevem Russel diz que a Scotland Yard tem acompanhado pela imprensa que a área imobiliária nos últimos 3 anos cresceu acima de 300 a 400%. Para eles esta subida tem a ver com o aumento de droga importada do Brasil. "Se reparares há anos atrás havia mais controle nos portos, que estavam sendo controlado pelos britânicos e hoje esta mais vulnerável".
"E acredita que esta subida tem a ver com lavagem de dinheiro de traficantes de droga". Russel diz ainda que nos jornais moçambicanos aparecem moradias que custam cerca de um milhão de usd. "Hoje com um milhão de usd podes comprar duas moradias nos Estados Unidos da América".
A finalizar, a fonte disse que "a Scontland Yard, em 2006, estava a investigar o rápido crescimento económico dos irmãos Tiger, eles que tem um centro comercial localizado na avenida Ho Chi Min."
"A Scotland Yard trabalha com informação a partir da Policia Judiciãria de Portugal. A PJ, pediara à «Scotland Yard» para investigar o que teria levado a um crescimento tão rápido. Sabe-se ainda que os irmão Tiger, nomeadamdaente Mahomed Gulamo Rassel e Mehbub Gulamo Rassul já estiveram presos nos finais da década oitenta em Portugal, em casos ligados ao narcotráfico". Dez anos depois os irmãos «Tiger» construíram um shopping e recentemente adquiriram a fábrica de óleo Fasol. "Não é possível de vídeo clube e venda de electrodomésticos obterem fortuna e este investimento" disse o agente Steven Russel.
O novo edifício da Tiger foi inaugurado em 2003/4 por Joaquim Chissano, nos seus áureos anos de poder como presidente da República e do partido Frelimo. De lá para cá o Tiger Shopping tem decaído no competitivo mercado de Maputo a favor de outros empreendimentos

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