terça-feira, junho 24

Os árabes estão chegando ao Brasil


Os árabes estão chegando... | 12.06.2008
...e também os malaios, cingapurianos, coreanos e israelenses. Depois de investidores europeus e americanos, ?é a vez de os riquíssimos fundos da Ásia aportarem por aqui

Kami/Arabian Eye Al Nahyan, dos Emirados: mais negócios no BrasilPublicidadePor Giuliana NapolitanoEXAME Investidores baseados nos Estados Unidos e na Europa foram os grandes protagonistas dos últimos dois anos no Brasil. Nas 93 aberturas de capital realizadas na Bovespa em 2006 e 2007, eles responderam por cerca de 70% do volume transacionado e, no mercado imobiliário, investiram mais de 2 bilhões de reais. Depois de europeus e americanos terem aberto o caminho, agora é a vez de aplicadores da longínqua Ásia aportarem no mercado brasileiro. Lentos para tomar a decisão de colocar os pés no Brasil, esses gestores parecem agora apressados para encontrar negócios nos quais possam colocar petrodólares. Três meses bastaram para dois fundos árabes — o Royal Group, que administra a fortuna da família real de Abu Dhabi, dos Emirados Árabes Unidos, e o Olayan Group, da Arábia Saudita — conhecerem, avaliarem e se tornarem sócios da Bracor, companhia brasileira de investimentos imobiliários. “Foi tudo muito rápido”, diz Carlos Betancourt, fundador da Bracor. Ele foi apresentado aos bilionários fundos árabes pelo empresário americano Sam Zell, um dos expoentes do mercado imobiliário internacional e sócio da Bracor desde 2006. “Esses investidores já acompanhavam o Brasil, e bastou a indicação de Sam Zell para decidirem aportar recursos aqui”, diz Betancourt, que, a pedido dos fundos, não revela quanto eles aplicaram na companhia. “Confesso que não tínhamos esses investidores no radar, mas agora com certeza pensaremos no Oriente Médio quando tivermos de fazer uma nova captação de recursos.”

Mais do que um caso isolado, o exemplo da Bracor evidencia uma mudança de fundo que vem ocorrendo no Brasil. O país entrou no radar de gente sem nenhuma tradição de investimentos por aqui. Fundos da Ásia em geral — e do Oriente Médio em particular — estão ampliando suas aplicações no país de forma agressiva. Sua participação no total de negócios da Bovespa, por exemplo, dobrou no último ano — hoje, eles representam 4% do capital estrangeiro na bolsa, e a aposta é que essa cifra aumente muito nos próximos anos. Entre os destaques da primeira leva estão nomes como GIC e Temasek, ambos de Cingapura e posicionados entre os dez maiores fundos soberanos do mundo. “Eles participaram de quase todos os IPOs de 2007”, diz José Olympio Pereira, diretor do banco Credit Suisse. Uma das últimas instituições a abrir um escritório no país foi a coreana Mirae Asset Management. Com cerca de 900 milhões de dólares aplicados em ações de empresas brasileiras e em empreendimentos imobiliários, a Mirae aguarda autorizações do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários para operar um banco de investimento e uma gestora de recursos no Brasil. “A estratégia da Mirae é garimpar oportunidades em países com grande potencial de crescimento, e o Brasil é um dos mais promissores”, diz Edward Oh, diretor internacional da Mirae.

É natural, segundo executivos do mercado, que fundos orientais cheguem ao país depois de americanos e europeus. Eles são, em geral, muito mais conservadores. Boa parte do dinheiro da Ásia que roda o mundo em busca de oportunidades está em fundos soberanos e de pensão, que têm um horizonte de mais longo prazo e costumam ir para países com um histórico mais consolidado de estabilidade e crescimento. “O Brasil era o patinho feio dos emergentes até pouco tempo atrás, mas agora virou prioridade”, diz Alexandre Gorra, responsável pela plataforma internacional da gestora de recursos BNY Mellon Arx, que administra cerca de 600 milhões de dólares de investidores estrangeiros. O que atrai esses investidores, não resta dúvida, é o bom momento da economia local. “Há uma multiplicação de oportunidades de negócios no país, em setores tão diversos como infra-estrutura e agropecuária”, diz Charles Yang, diretor no Brasil do Korea Development Bank, espécie de BNDES da Coréia do Sul. A crise americana é outro fator que pesa a favor do Brasil. “Os investidores buscam oportunidades em outros lugares, uma vez que os Estados Unidos atravessam uma crise de liquidez”, diz Daniel Bernd, presidente no Brasil do grupo israelense de investimentos imobiliários Gazit Globe, que administra 12 bilhões de dólares em mais de dez países. Aqui, o Gazit acaba de comprar dois shoppings — o Morumbi Town Center, em São Paulo, e o Italian Mall, ainda em construção, em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha.

O apego à discrição é a marca registrada dos investidores asiáticos — eles não costumam dar entrevistas e raramente divulgam seus negócios e informações financeiras. Dois dos fundos mais misteriosos estão sob o comando dos Al Nahyan, família real do emirado de Abu Dhabi. Parte da fortuna pessoal do clã é administrada pelo Royal Group, holding que controla cerca de 30 empresas de setores diversos — de construção a mídia e tecnologia. O patriarca da família, o xeque Khalifa bin Zayed Al Nayan, é presidente dos Emirados Árabes Unidos e também controla o fundo soberano do país, o Abu Dhabi Investment Authority. Com um patrimônio de 875 bilhões de dólares, que o coloca no topo do ranking mundial de fundos soberanos, o Adia — como é mais conhecido — é cortejado por bancos e empresas de todo o mundo. No Brasil, informações de executivos do mercado dão conta de que o Adia colocou dinheiro na construção do edifício Ventura Towers, da incorporadora Tishman Speyer, no Rio de Janeiro.


Quem são eles
Alguns dos principais investidores da Ásia no Brasil
Investidor Negócios no Brasil Patrimônio (em dólares)
Abu Dhabi Investment Authority
(Emirados Árabes) Edifício Ventura, da Tishman, no Rio de Janeiro, e outros mantidos em sigilo 875 bilhões
Temasek
(Cingapura) É sócio da BR Properties, empresa com sede em São Paulo controlada pela GP 100 bilhões
Mirae
(Coréia do Sul) Aplica em ações de empresas brasileiras e no setor imobiliário 73 bilhões
Gazit
(Israel) Investe em shopping centers em São Paulo e no Rio Grande do Sul 12 bilhões
Royal Group
(Emirados Árabes) É sócio da Bracor, firma de investimentos imobiliários de São Paulo

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