quarta-feira, maio 14

Quando eu queria ser jornalista

Quando eu queria ser jornalista

José Martins (Correspondente em Banguecoque)
Durante a minha vivência em Banguecoque conheci muita gente, de ministros a embaixadores e outros; e, claro, não podiam faltar os jornalistas. Nunca cheguei a entender a razão por que também gostava de ser jornalista. O virus chegou-me na Beira, em Moçambique, quando ainda era um jovem na casa dos 30. Conheci o Henrique Coimbra, o Rui Cartaxana do Diário de Moçambique, o Inácio de Passos, o falecido e brilhante jornalista Gouveia de Lemos, o Roberto Cordeiro e ainda outros de que não me lembro, do Notícias da Beira.

Quando o Gouveia de Lemos veio de Lourenço Marques para a Beira organizar o Notícias da Beira, um dia entrei no seu gabinete de trabalho e disse-lhe: «Sr. Gouveia de Lemos eu quero ser jornalista!» E perguntei-lhe logo se no seu jornal havia lugar para mim. O bom homem animou-me; que não perdesse as esperanças. Uns meses depois, disse o mesmo ao Cartaxana, um rapaz da minha idade e famoso na Beira pelas suas intervenções jornalísticas.

Aconselhou-me a comprar um livro na Salema para a iniciação ao jornalismo. Era nessa altura viajante da firma City Stores e até nem sabia porque cargas de trabalho queria uma profissão de parco salário, dado que alguns meus amigos jornalistas tinha mais cotão nos bolso que moedas. Quando observava algo de interesse jornalístico no meu caminho, telefonava para a redacção do Diário de Moçambique a noticiar o facto. Não havia proventos mas amor à camisola. Sentia a vaidade de ao outro dia ver a fotografia e a notícia que tinha partido de mim.

De Moçambique zarpei para a Rodésia do Ian Smith e a vontade de ser jornalista ficou pelo caminho. Regressei a Portugal em 1976, já como mecânico profissional e passados dois dias de chegar à pátria minha amada estava a trabalhar na empresa de bebidas J. Cândido da Silva, em Ramalde (conhecido como o lugar dos «cornos grandes». Não eram os dos homens, mas os dos bois dos lavradores daquele meio rural).

Naquela empresa, um armazém de bebidas com uns trinta empregados, todos eram camaradas do tio Álvaro Cunhal, simpatizantes do Otelo Saraiva de Carvalho, do Vasco Gonçalves e outros políticos que apareciam da noite para o dia. Todos, homens e mulheres, andavam de autocolantes na lapela dos seus ídolos. Um motorista de barbicha no queixo (que me desculpem os que usam pêra, mesmo que sejam do partido político em que não alinho), procurou mentalizar-me para me associar ao partido, e até me ofereceu bilhetes de transporte para a festa do Jamor. Eu não fui; nem para o partido, nem para o Jamor.

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