quarta-feira, dezembro 5

DA PONTINHA DE CHICO REI, ao negro sem terra. Andre Pessego · São Paulo (SP)

"A imaginação da construção da Nação brasileira ficou restrita à terra, à sua posse, sua distribuição e ao seu usufruto por uma etnia dominante"; Luis Mir.- O que é uma pontinha?- "Pontinha é uma ponte pequena, uai!"- Errado. Redondamente. Lá na frente eu falo.A integração brasileira só se dará quando a população negra tiver direito à terra. Não estou falando de meios econômicos para obtê-la. Estou falando de quebrar o princípio da "anterioridade jurídica" para dar-lhe o direito de ter a terra. Vou pegar quatro exemplos, poderia ser inúmeros, e fazer as considerações que seguem.a) CHICA DA SILVA: Chica deu aos filhos educação esmerada: da batina a passagem por academias romanas. Dos quatro filhos homens, de um sendo padre, os outros bacharéis, todos viveram a debaterem-se para ingressar no seio da nobreza - é tudo quanto se sabe. Das 9 filhas a maioria tornando-se freiras, não deixaram pegadas diferentes dos rastros das outras quatro, no que pese a educação de proa em colégios internos católicos. Tudo o mais foi o sem-eira-nem-beira de quem não tem a terra, de sua ou no seio da família. Todos sabemos o destino e o paradeiro dos Antonio de Allbuquerque, Gov. Minas, 1712, porque tiveram terra, o direito à posse da terra.


Estão entre tesouros e palácios.

Em cada período a Doutrina Militar do Brasil, sorteia um ou outro negro para servir de cala-a-boca, cumprido o papel, os elimina vorazmente.b) HENRIQUE DIAS, Séc.. XVII, "o gov. dos prestos" e o Gov. Souto Maior, ambos lutaram para destruir Palmares, Henrique Dias, com muito mais destaque e feitos.

Da árvore Souto Maior não preciso falar, ombreá-se à genealogia Almeida.

E os "herdeiros Henrique Dias" - onde estão? - Com certeza nalguma favela, ou dizimados, entre o Séc. XVII e XVIII, talvez nem chegaram ao Séc. XX e se chegaram, aconteceu na mais absoluta desimportância.E por que? Porque não tiveram terra. Na família é preciso dentre seus membros uma parte considerável tê-la. É a referência.- Mas por que não tiveram terra, se por conta do episódio Palmares, terras foram distribuídas, de norte a sul, fora as da própria região? Se o pagamento de tudo era a terra? Se todos os outros - de comandantes a soldados, a tiveram?- Henrique Dias sendo negro não podia ter terra. (Ainda hoje, o negro não pode!, sob mil disfarces, mas não pode). Há notícias, de que as demandas de Jorge Velho chegaram à República. Não foi encontrado uma só demanda ou registro veiculando Henrique Dias à terra.c) PELÉ, que destino está tendo o clã Pelé? de Pelé a pergunta, sobre a prisão não deve nos interessar.Mas a resposta: Cometeu crime, (se cometeu), porque na família não tem terra, não tem quem tenha tido terra. Quem não tem terra, não tem para onde voltar, não tem onde repousar das turbulências, dos sustos, das mudanças da e na vida.

Quem terá sido Pelé daqui a 200 anos?d - PONTINHA, o milagre da Terra. Séc. XVIII, CHICO REI, alguns dados.


De Chico sabe-se, com certeza tinha irmãos e parentes muitos. A história do ouro carregado nos cabelos é pura enganação.

Todos os negros tinham cabelo. E quem viveu em garimpo, quem travou conhecimento com os exploradores, donos, faisqueiros, compradores, sabem a ferocidadee "esperteza" daquela gente. Chico Rei, (como Pelé, como Chica e assim por diante) foi sorteado na política da antiga quota, a quota do "cala-a-boca", - racismo? - olha o exemplo de Pelé, de Chica...UM ENDEREÇO: Há em Minas um lugar chamado PONTINHA, antes distrito de Diamantina, até à década de 1970 município de POMPEU.Chico Rei, como os filhos de Chica, vivia gastando a riqueza fazendo agrados à nobreza - das pessoas às santidades: patrocinando festas e construindo igrejas, (a atual Igreja de Sta. Efigênia, Ouro Preto,mandada construir por Chico Rei chamava-se Igreja de Na. Sra. dos Pretos do Alto da Cruz, (1720, inicial, depois reformada 1785).Havia, na mesma época, o padre do local, Padre Moreira, diocese enorme, e as Santas Padroeiras, de muitos cabedais, notadamente terra. Já esvaida a fortuna de Chico, Padre Moreira, por amancebia com uma irmã de Chico Rei, se encarrega de comprar-lhe terra. Como negro não podia ter terra.


O padre usou do seguinte artifício: pouco distante da sede a Padroeira tinha UMA PONTINHA DE TERRA, de muito trabalho e pouca utilidade. "A padroeira vende aquela pontinha de terra a Chico Rei".(A amancebia foi arma de muita utilidade e valor na vida do Brasil, o que se chama hoje de liberalização sexual, foi magistralmente a mancebia).Padre Moreira fez os documentos como sendo para uns parentes dele (padre) chegantes de Portugal, e para não gerar desconfiança deu a todos o nome MOREIRA: fulano Moreira, beltrano Moreira.


Pontinha distante da sede, e lugar sem comércio, nem passagem, camuflou os Chicos Rei por um bom tempo desapercebidos. Assim os Moreiras de Pontinha são a linhagem de Chico Rei.Antes da "queima de Rui" pegou fogo o cartório onde estavam os acentos das escrituras dos Moreiras... Uma certa Dona Mariinha, viúva ainda nova, figuraça do local, por amancebia com um dos Moreiras, tomou-lhes as dores, (pelo "seu pedacinho de ébano", diziam as más línguas") ajeitou novos documentos, etc. Com o advento do Estatuto da Terrá, já na década de 1970, grileiros oficiais (todo grileiro é oficial) quiseram tomar Pontinha dos Moreiras. Alguns deles foram levados a Brasilia... um outro Padre, dep. Monsenhor Arruda Câmara, de Pernambuco, os socorreu.


Ainda apareceram falsas escrituras...


A imprensa, notadamente a alternativa, engajada, publicou o que foi possível do caso. Estão lá, espremidos pelas políticas agrícolas que não abrangem ao negro. Porque todo o espírito das políticas agrícolas está fincado no "princípio da anterioridade". Propositadamente mantido.Assim, ainda estão lá os Moreira, pé na Terra.
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DA PONTINHA DE CHICO REI, ao negro sem terra.
Andre Pessego · São Paulo (SP) · 19/8/2007 22:11





Este, representa todos os outros do futuro, do Planeta Terra! Deixemos que sejam todos iguais.




Uma realidade dura!Mas a luta continua, até acabar o racismo, a xenofobia, a loucura de homens considerados bons, cerebralmente, e se aproveitam da situação, para que as guerras continuem e encherem os seus bolsos próprios, esquecendo-se (fingindo-se) da miséria mundial que se vive hoje!

Por tudo isso e muito mais, "A Luta continua" um dia venceremos.


Madalena Gouvêa Lemos

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