terça-feira, outubro 9

Natal de 1970, por António Gouveia Lemos





Natal de 1970

Quadro pintado por Candido Portinari


Trago-te flores
e não brinquedos este ano
minha filha




Ainda quente no meu rosto
o último sopro da tua febre
ainda gélido nos meus lábios
o subito irreversível frio da tua morte
dizem-me que um Deus menino te levou
e nada resta no fundo lamacento desta campa









Enquanto
serena
eco inaudível
sombra tranlúcida
pairas neste vazio sem fronteiras
que ora sou
pudera eu crer
que me esperas
doce caçula
traquinas
às escondidas na eternidade














Pudera eu ver um presépio
de esperança e racional
no metro e meio da tua sepultura




Além porém deste inerme desespero
trago-te flores só flores
e não brinquedos este ano
minha filha













António Gouveia Lemos



(Poema escrito após a desencarnação da Mª João,
no mesmo ano que ela deixou este plano.
A Maria João tinha 8 anos quando nos deixou. )


Madalena

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