quinta-feira, setembro 20

Dalai Lama, O Mensageiro da Paz

Tudo sobre a Vida










O último dia do líder tibetano em Lisboa foi «especial», como confessaria o próprio perante as cerca de dez mil pessoas que pagaram bilhete para o ouvir no Pavilhão Atlântico, esta tarde.




Especial por estar ali, perante tanto público, mas também porque de manhã tinha participado num encontro inter-religioso que o tocou particularmente. «Foi a primeira vez que me juntei a irmãos de outras tradições religiosas numa mesquita», revelou satisfeito, no final da sua intervenção na mesquita de Lisboa.







Representantes da comunidade islâmica, hindu, judaica, cristã e baha’i juntaram-se ao ex-presidente Mário Soares, que ali discursou na qualidade de presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, para saudar o empenho do Dalai Lama na promoção da paz mundial e do diálogo entre diferentes religiões.




Simbolicamente, foram libertadas sete pombas e dezenas de balões brancos, com os símbolos dos diferentes credos e a mensagem «Promovendo juntos a Paz universal e a Harmonia através do diálogo inter-religioso».O Dalai Lama entrou no templo muçulmano ladeado pelo imã da mesquita, xeque David Munir, e pelo líder da comunidade islâmica de Lisboa, Abdul Vakil, e fez questão de se sentar no chão, virado para Meca, para uns breves momentos de meditação.



Em seguida, recebeu com agrado um exemplar do Corão.



Logo depois, veria a seus pés um católico emocionado. Paulo Lobão veio de propósito da ilha Terceira para lhe oferecer uma coroa do Espírito Santo em prata.



Quando o Dalai Lama aceitou o seu presente e lhe estendeu a mão, o açoriano não conteve a emoção e chorou convulsivamente.



Talvez com esta imagem ainda em mente, começaria por lembrar à multidão que enchia o Pavilhão Atlântico que não era santo nem tinha poderes mágicos. «Muitos de vós devem ter vindo aqui com uma grande expectativa e isso terá sido um erro.



Sou apenas um homem comum, um ser humano como vocês, e na verdade não vou dizer-vos nada de especial. Apenas coisas do senso comum...»


Divertido, contou um episódio da sua última visita aos Estados Unidos. «Há quem pense até que tenho poderes para curar as pessoas! Eu sou um céptico, não acredito [em milagres]. Mas houve um homem que, ao cumprimentar-me, me apertou tanto a mão, achando que o poderia ajudar, que fiquei com meu dedo mindinho muito magoado. Eu é que fiquei a precisar que alguém me curasse!»



Esclarecido o público, falaria durante duas horas e meia sobre «o poder do bom coração» - ou seja, como a compaixão, o respeito e o amor pelos outros podem começar por mudar-nos interiormente, trazendo mais felicidade às nossas vidas, mas também como a prática desses valores podem ajudar a mudar o mundo, trazendo paz onde há conflito. «Temos de interiorizar que todos nós, os 6 mil milhões de habitantes deste planeta, dependemos uns dos outros.



O planeta é só um, a nossa única morada.

Quando alguém destrói uma floresta, afecta-nos a todos.»




Também a paz mundial só será possível com o contributo de cada um, lembra. «A paz não vai cair do céu!



Todos temos de fazer um esforço e devemos lutar pelo desarmamento do nosso planeta mas começar por fazer um desarmamento interior, reduzindo dentro de nós sentimentos negativos como o ódio e a raiva.»






Muito aplaudido a cada intervenção, o Dalai Lama aceitou, no final, responder a algumas perguntas do público.





Questionado sobre o que poderiam os cidadãos portugueses fazer para ajudar a causa tibetana deixou a sugestão: «Podem contactar os grupos de apoio que existem em Portugal ou escrever aos deputados do vosso parlamento e do parlamento europeu.





Também seria boa ideia viajarem até ao Tibete. Estudem o que se passou nos últimos 60 anos e o que se passa ali agora, vejam se corresponde à verdade a bonita imagem que a China tenta vender. E depois contem ao mundo o que viram.»





Portala, Tibete




A lembrança das dificuldades por que passam os seis milhões de tibetanos que vivem no chamado «Tecto do Mundo», a que não pode regressar desde 1959, foi um dos poucos momentos em que o seu semblante ficou carregado. Mas, logo depois, soltaria uma das suas típicas gargalhadas, quando lhe perguntaram o que mais recordaria destes seus cinco dias em Lisboa: «O calor!»



O público, que se abanava há mais de duas horas com tudo o que havia à mão, concordou e riu com ele.


In Visão

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