Frei Betto é ainda católico?
17.Ago.2007
Dom Redovino Rizzardo, cs
*Num dia desses, um amigo me perguntou à queima-roupa: «Frei Betto é ainda católico?»
Ante a minha surpresa – pois se trata de um religioso da Ordem Dominicana, uma das mais notáveis e beneméritas da Igreja –, ele continuou:
«Católico é quem defende as posições da Igreja. Não é isso que o Frei Betto está fazendo! Em mais de uma ocasião, divergiu publicamente do Papa Bento XVI».
Para começo de conversa, lembrei-lhe que, desde o tempo de Santo Agostinho, circula na Igreja uma máxima, que mantém sua validade até os dias de hoje: «Nas dúvidas, liberdade; na fé, unidade; em tudo, caridade!».
Acrescentei que a unidade não se identifica com a uniformidade: enquanto a primeira empobrece, a segunda enriquece.
Aliás, quando buscamos a verdade na caridade, o contraste e a multiplicidade de idéias a ninguém prejudicam.Com isso, evidentemente, eu não pretendia apoiar as dúvidas e dissensões de Frei Betto, dentre as quais a primeira – lembrada pelo meu interlocutor – está relacionada com o aborto:
«Se os moralistas fossem sinceramente contra o aborto, lutariam para que não se tornasse necessário e todos pudessem nascer em condições sociais seguras.
Ora, o mais cômodo é exigir que se mantenha a penalização do aborto».
Expliquei ao amigo que, em certo sentido, o frade dominicano tinha razão. Não se pode negar que uma maneira correcta de combater o aborto seja criar «condições sociais seguras».
Assumir a luta pela vida é muito mais do que não interromper a gravidez.Mas, se Frei Betto tem razão, ela também não falta ao meu inquiridor!
Mais do que as condições sociais, é a cultura pagã e materialista em voga que favorece e incentiva o aborto.
A "matança de inocentes", que se verifica atualmente em toda a parte, tem a sua origem não na miséria do povo – pois há países super-ricos que liberam e promovem o aborto –, mas na falta de valores humanos e de princípios cristãos da maior parte da população (não só entre as lideranças, mas até mesmo entre camadas mais pobres).
Outro pomo de discórdia entre Frei Betto e a Igreja, na visão do meu amigo, é a liturgia. Pouco antes da visita de Bento XVI ao Brasil, o religioso dominicano, em entrevistas a alguns jornais, afirmara que, com o incentivo da missa em latim, o Papa estava levando a Igreja a regredir para antes do Concílio Vaticano II.
Na opinião do meu questionador, Frei Betto colocara a carroça diante dos bois. A Carta Apostólica de Bento XVI sobre "a volta da missa em latim" – se é que a tão pouco pode ser reduzido o escrito pontifício –, foi publicada no dia 7 de julho. Nela, o Papa diz expressamente que a forma ordinária da celebração eucarística é a do Missal publicado por Paulo VI em 1970, onde, entre outras mudanças, foi admitido e aprovado o vernáculo. Ao passo que a missa em latim, segundo o Missal de João XXIII, editado em 1962, é e será sempre a forma extraordinária.
Com a lucidez e a profundidade que o caracterizam o Papa explica que, não poucas vezes, o desejo de voltar ao passado surge da superficialidade com que se é tentado a celebrar hoje: «Na celebração da Missa segundo o missal de Paulo VI poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que freqüentemente aconteceu até agora, a sacralidade que atrai muitos para o uso antigo.
A garantia mais segura para o missal de Paulo VI unir as comunidades paroquiais e ser amado por elas é celebrar com grande reverencia, em conformidade com as rubricas; isso torna visível a riqueza espiritual e a profundidade teológica deste missal».
O último ponto dissonante lembrado pelo interlocutor é a crítica de Frei Betto a Bento XVI pela forma como este, em sua Exortação Apostólica de 22 de fevereiro de 2007, se dirige aos fiéis católicos que se sentiram na contingência de contrair novas núpcias, depois do fracasso do primeiro casamento:
«Se Deus é amor e as segundas núpcias são feitas com amor, como pode o Papa definir tais núpcias uma praga em nossa sociedade?».
Na verdade, o Papa fala de "chaga", não de "praga", e se refere ao divórcio, não às segundas núpcias, as quais, em determinados casos – avaliadas pelo Tribunal Eclesiástico –podem legitimar-se.
Estas as palavras exatas de Bento XVI: «Trata-se de um problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira chaga do ambiente social contemporâneo, que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos».
Nenhum cristão, nem Frei Betto nem o Papa, pode mudar do evangelho: «Se um anjo do céu vos anunciar um evangelho diferente daquele que vos anunciamos, seja maldito!» (Gl 1, 8). Para Deus, o casamento – quando verdadeiro, celebrado na fé e assumido conscientemente – é indissolúvel: «O que Deus uniu, o homem não separe!» (Mc 10, 9).
Por tudo isso, meu amigo, você tem razão: é mais seguro ficar com o Papa!
*Bispo de Douradosdomredovino@terra.com.br
17.Ago.2007
Dom Redovino Rizzardo, cs
*Num dia desses, um amigo me perguntou à queima-roupa: «Frei Betto é ainda católico?»
Ante a minha surpresa – pois se trata de um religioso da Ordem Dominicana, uma das mais notáveis e beneméritas da Igreja –, ele continuou:
«Católico é quem defende as posições da Igreja. Não é isso que o Frei Betto está fazendo! Em mais de uma ocasião, divergiu publicamente do Papa Bento XVI».
Para começo de conversa, lembrei-lhe que, desde o tempo de Santo Agostinho, circula na Igreja uma máxima, que mantém sua validade até os dias de hoje: «Nas dúvidas, liberdade; na fé, unidade; em tudo, caridade!».
Acrescentei que a unidade não se identifica com a uniformidade: enquanto a primeira empobrece, a segunda enriquece.
Aliás, quando buscamos a verdade na caridade, o contraste e a multiplicidade de idéias a ninguém prejudicam.Com isso, evidentemente, eu não pretendia apoiar as dúvidas e dissensões de Frei Betto, dentre as quais a primeira – lembrada pelo meu interlocutor – está relacionada com o aborto:
«Se os moralistas fossem sinceramente contra o aborto, lutariam para que não se tornasse necessário e todos pudessem nascer em condições sociais seguras.
Ora, o mais cômodo é exigir que se mantenha a penalização do aborto».
Expliquei ao amigo que, em certo sentido, o frade dominicano tinha razão. Não se pode negar que uma maneira correcta de combater o aborto seja criar «condições sociais seguras».
Assumir a luta pela vida é muito mais do que não interromper a gravidez.Mas, se Frei Betto tem razão, ela também não falta ao meu inquiridor!
Mais do que as condições sociais, é a cultura pagã e materialista em voga que favorece e incentiva o aborto.
A "matança de inocentes", que se verifica atualmente em toda a parte, tem a sua origem não na miséria do povo – pois há países super-ricos que liberam e promovem o aborto –, mas na falta de valores humanos e de princípios cristãos da maior parte da população (não só entre as lideranças, mas até mesmo entre camadas mais pobres).
Outro pomo de discórdia entre Frei Betto e a Igreja, na visão do meu amigo, é a liturgia. Pouco antes da visita de Bento XVI ao Brasil, o religioso dominicano, em entrevistas a alguns jornais, afirmara que, com o incentivo da missa em latim, o Papa estava levando a Igreja a regredir para antes do Concílio Vaticano II.
Na opinião do meu questionador, Frei Betto colocara a carroça diante dos bois. A Carta Apostólica de Bento XVI sobre "a volta da missa em latim" – se é que a tão pouco pode ser reduzido o escrito pontifício –, foi publicada no dia 7 de julho. Nela, o Papa diz expressamente que a forma ordinária da celebração eucarística é a do Missal publicado por Paulo VI em 1970, onde, entre outras mudanças, foi admitido e aprovado o vernáculo. Ao passo que a missa em latim, segundo o Missal de João XXIII, editado em 1962, é e será sempre a forma extraordinária.
Com a lucidez e a profundidade que o caracterizam o Papa explica que, não poucas vezes, o desejo de voltar ao passado surge da superficialidade com que se é tentado a celebrar hoje: «Na celebração da Missa segundo o missal de Paulo VI poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que freqüentemente aconteceu até agora, a sacralidade que atrai muitos para o uso antigo.
A garantia mais segura para o missal de Paulo VI unir as comunidades paroquiais e ser amado por elas é celebrar com grande reverencia, em conformidade com as rubricas; isso torna visível a riqueza espiritual e a profundidade teológica deste missal».
O último ponto dissonante lembrado pelo interlocutor é a crítica de Frei Betto a Bento XVI pela forma como este, em sua Exortação Apostólica de 22 de fevereiro de 2007, se dirige aos fiéis católicos que se sentiram na contingência de contrair novas núpcias, depois do fracasso do primeiro casamento:
«Se Deus é amor e as segundas núpcias são feitas com amor, como pode o Papa definir tais núpcias uma praga em nossa sociedade?».
Na verdade, o Papa fala de "chaga", não de "praga", e se refere ao divórcio, não às segundas núpcias, as quais, em determinados casos – avaliadas pelo Tribunal Eclesiástico –podem legitimar-se.
Estas as palavras exatas de Bento XVI: «Trata-se de um problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira chaga do ambiente social contemporâneo, que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos».
Nenhum cristão, nem Frei Betto nem o Papa, pode mudar do evangelho: «Se um anjo do céu vos anunciar um evangelho diferente daquele que vos anunciamos, seja maldito!» (Gl 1, 8). Para Deus, o casamento – quando verdadeiro, celebrado na fé e assumido conscientemente – é indissolúvel: «O que Deus uniu, o homem não separe!» (Mc 10, 9).
Por tudo isso, meu amigo, você tem razão: é mais seguro ficar com o Papa!
*Bispo de Douradosdomredovino@terra.com.br
progresso.com.br
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