Agora quero falar dos desenganos do amor. O que é que as pessoas dão às outras? Amor? Elas acham que sim. Quando oferecem coisas materiais. O que pretendem? Agradar, fazer-se conhecer. O que recebem? Não tanto quanto esperavam. Porquê? Porque quem ama envia amor, e em troca espera amor, não uma coisa material, física. Quem ama dá o quê? Às vezes dá-se, mas através da concessão. A pessoa concede, deixa de ter ou de fazer as coisas de que gosta. E o que é que recebe? Não tanto quanto espera. Porque quem ama quer amor. Não é uma concessão que irá fazer a pessoa feliz.Quem ama dá o quê? Às vezes cobra. Precisa de coisas que ela própria quer, e não o que o outro tem para dar. E recebe o quê? Quem ama quer amor e não incompreensão e cobrança.Quem ama dá o quê? Quem ama, quem verdadeiramente ama, dá amor, das mais variadas formas. Mas só pode dar o amor que tem, o amor que constrói, que recebe dentro de si própria. Esse amor é sempre divino e está preparado para multiplicar-se. E o amor multiplicado constrói dias mais longos para se viver.
A Alma Iluminada, Alexandra Solnado
quinta-feira, novembro 27
sábado, novembro 22
Ser Poeta
É ser livre,
no rosto um sorriso,
para quem possa deixar a utopia
para que o
mundo mude as dores,
daqueles que no momento, sofrem na pele
as injustiças sociais.
Ser poeta é, acreditar que de utopia possa-se transformar
em real, as injustiças que um ser humano,
ainda tenha que enfrentar em pleno século XXI...!?
Ser poeta é cortar vinculos propostos por uma sociedade minuta,
à qual nós não pertencemos,
por abstinência a tal título,
para que possamos gritar ao mundo que,chega!
Há que dar um basta a tanta injustiça.
Ser poeta é ter nos dedos o seu pensar,
é o gritar para toda a gente, as justiças e injustiças,
O surreal em palavras compostas,
para se fazer delas algo de concreto.
Ser poeta é ser dócil até nas palavras
mais bruscas,
Chorar a dor do outro,
para a sentir mais fundo do seu pensamento!
Fazer do irreal o real.
Ser poeta é ser, um ser sensível!
Madalena Lemos
22 de Novembro de 2008
Amadora
no rosto um sorriso,
para quem possa deixar a utopia
para que o
mundo mude as dores,
daqueles que no momento, sofrem na pele
as injustiças sociais.
Ser poeta é, acreditar que de utopia possa-se transformar
em real, as injustiças que um ser humano,
ainda tenha que enfrentar em pleno século XXI...!?
Ser poeta é cortar vinculos propostos por uma sociedade minuta,
à qual nós não pertencemos,
por abstinência a tal título,
para que possamos gritar ao mundo que,chega!
Há que dar um basta a tanta injustiça.
Ser poeta é ter nos dedos o seu pensar,
é o gritar para toda a gente, as justiças e injustiças,
O surreal em palavras compostas,
para se fazer delas algo de concreto.
Ser poeta é ser dócil até nas palavras
mais bruscas,
Chorar a dor do outro,
para a sentir mais fundo do seu pensamento!
Fazer do irreal o real.
Ser poeta é ser, um ser sensível!
Madalena Lemos
22 de Novembro de 2008
Amadora
sexta-feira, novembro 21
Lideranças negras reunidas
20 de novembro de 2008
Jaraguá do Sul – A Escola Municipal Rodolpho Dornbusch, da Vila Lalau, realizou dia 7, um seminário com o tema “Importância de lideranças negras na sociedade” onde foram convidadas personalidades afro-brasileiras para transmitirem suas experiências de luta por igualdade na sociedade.
Entre os convidados, o primeiro vereador negro eleito de Jaraguá do Sul, Francisco Valdecir Alves, e a vereadora e professora em Guaramirim, Maria Lúcia Richard. Também estiveram presentes as professoras Sandra Helena Maciel – primeira coordenadora do Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu – e Rosa Nilva de Melo, que coordena um projeto de dança e artes na Escola Alfredo Zimmermann, em Guaramirim.
O seminário foi direcionado aos alunos do 6º ao 9º ano, que participam de um projeto de inclusão da lei 10.639/03 nas aulas de educação física, através da capoeira, sob a coordenação do professor Luis Fernando Olegar, que também já coordenou o Moconevi.
O seminário serviu para o lançamento da programação que a EMEF Rodolpho Dornbusch realizará no dia 20 de novembro, considerado o Dia Nacional da Cultura Afro-Brasileira, quando estão previstas apresentações de maculelê, capoeira e rap (com alunos da escola), um show com “DNS Hip Hop Gospel” e diversas oficinas: Trança Afro, Máscaras Africanas, Religião de Matriz Africana, Capoeira de Angola e Maculelê, Dança Afro, Basquete de Rua, Dança de Rua, Grafitte e Rap, Culinária Cocada, Boneco Negro. Os eventos são abertos à comunidade.
Eventos marcam a Semana da Consciência Negra na região - O Museu Emílio da Silva e o Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi) farão no domingo, dia 16, às 17 horas, a abertura da exposição com o tema “Religiões Afro”, que permanece aberta a visitação até 30 de novembro. A abertura será marcada pelas apresentações do Grupo Cantos de Umbanda e roda de capoeira. Fazem parte das religiões de matriz africana, segundo o professor de ensino religioso, graduado em ciências da religião e especialista em ética educação e religião, José Aparecido Félix, o camdomblé por suas várias nações rituais, mais o xangô, o xambá, o batuque e outros.
“Também a umbanda faz parte deste grupo, apesar de sua dupla pertença, pela influência sofrida do espiritismo kardecista e do catolicismo popular de matriz cristã”, registra Félix. Ainda dentro da Semana da Consciência Negra, no dia 17, segunda-feira, tem sessão solene da Câmara de Vereadores de Guaramirim, às 19 horas e palestra no dia 19, em escola da rede municipal.
No dia 20 de novembro, às 8h, palestra na Escola Rodolpho Dornbusch, 15h apresentação da capoeira na Escola Abdon Batista e às 19h, sessão solene na Câmara de Jaraguá do Sul.
Jaraguá do Sul – A Escola Municipal Rodolpho Dornbusch, da Vila Lalau, realizou dia 7, um seminário com o tema “Importância de lideranças negras na sociedade” onde foram convidadas personalidades afro-brasileiras para transmitirem suas experiências de luta por igualdade na sociedade.
Entre os convidados, o primeiro vereador negro eleito de Jaraguá do Sul, Francisco Valdecir Alves, e a vereadora e professora em Guaramirim, Maria Lúcia Richard. Também estiveram presentes as professoras Sandra Helena Maciel – primeira coordenadora do Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu – e Rosa Nilva de Melo, que coordena um projeto de dança e artes na Escola Alfredo Zimmermann, em Guaramirim.
O seminário foi direcionado aos alunos do 6º ao 9º ano, que participam de um projeto de inclusão da lei 10.639/03 nas aulas de educação física, através da capoeira, sob a coordenação do professor Luis Fernando Olegar, que também já coordenou o Moconevi.
O seminário serviu para o lançamento da programação que a EMEF Rodolpho Dornbusch realizará no dia 20 de novembro, considerado o Dia Nacional da Cultura Afro-Brasileira, quando estão previstas apresentações de maculelê, capoeira e rap (com alunos da escola), um show com “DNS Hip Hop Gospel” e diversas oficinas: Trança Afro, Máscaras Africanas, Religião de Matriz Africana, Capoeira de Angola e Maculelê, Dança Afro, Basquete de Rua, Dança de Rua, Grafitte e Rap, Culinária Cocada, Boneco Negro. Os eventos são abertos à comunidade.
Eventos marcam a Semana da Consciência Negra na região - O Museu Emílio da Silva e o Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi) farão no domingo, dia 16, às 17 horas, a abertura da exposição com o tema “Religiões Afro”, que permanece aberta a visitação até 30 de novembro. A abertura será marcada pelas apresentações do Grupo Cantos de Umbanda e roda de capoeira. Fazem parte das religiões de matriz africana, segundo o professor de ensino religioso, graduado em ciências da religião e especialista em ética educação e religião, José Aparecido Félix, o camdomblé por suas várias nações rituais, mais o xangô, o xambá, o batuque e outros.
“Também a umbanda faz parte deste grupo, apesar de sua dupla pertença, pela influência sofrida do espiritismo kardecista e do catolicismo popular de matriz cristã”, registra Félix. Ainda dentro da Semana da Consciência Negra, no dia 17, segunda-feira, tem sessão solene da Câmara de Vereadores de Guaramirim, às 19 horas e palestra no dia 19, em escola da rede municipal.
No dia 20 de novembro, às 8h, palestra na Escola Rodolpho Dornbusch, 15h apresentação da capoeira na Escola Abdon Batista e às 19h, sessão solene na Câmara de Jaraguá do Sul.
quinta-feira, novembro 20
terça-feira, novembro 18
E se Obama fosse africano? - Por Mia Couto
Por Mia Couto (escritor Moçambicano)
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles.
Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor.
Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão:
habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos
recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam
desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África.
Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato.
Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio
rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos
moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de
agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos.
Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um
qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos
moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as
pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa. Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de politicos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política.
Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
Semanário Moçambicano "SAVANA" - 14 de Novembro de 2008
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles.
Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor.
Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão:
habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos
recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam
desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África.
Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato.
Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio
rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos
moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de
agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos.
Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um
qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos
moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as
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No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de politicos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política.
Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
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terça-feira, novembro 4
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