O Papel da Espiritualidade na Qualidade de Vida do Doente Oncológica em Quimioterapia
Foi publicado na revista "Cons-Ciências" de Setembro, edições Universidade Fernando Pessoa, no Porto, um estudo científico que procurou determinar se a espiritualidade pode, ou não, influenciar a qualidade de vida do doente oncológico a realizar quimioterapia.
Apesar de, internacionalmente, existir um interesse crescente e uma vasta investigação publicada sobre o papel da religiosidade e da espiritualidade ao nível da saúde, em Portugal pouca importância tem sido dada a esta questão, isto apesar de mais de 90% dos portugueses professarem algum tipo de orientação religiosa. Por isso mesmo, este é um trabalho pioneiro entre nós, inclusive pelo facto da população estudada ser constituída unicamente por doentes com cancro.
A amostra deste estudo foi recolhida no Serviço de Oncologia Médica do Hospital Distrital de Faro e na Associação Oncológica do Algarve e consistiu em 23 doentes que ali se encontravam em tratamento de quimioterapia.
Os resultados encontrados foram muito interessantes e algumas das conclusões seguem a mesma linha de outros trabalhos internacionais já publicados que se debruçaram sobre esta temática, tendo sido estabelecidas correlações estatisticamente significativas entre espiritualidade (bem-estar espiritual) e melhor qualidade de vida. Assim, no estudo agora publicado, foi verificado que quanto mais elevados os índices de espiritualidade do doente, maior era a sua qualidade de vida geral, nomeadamente ao nível do seu bem-estar físico, funcional e emocional. O que isto quer dizer é que, de uma maneira geral, os doentes que apresentavam índices de espiritualidade mais elevados sentiam menos os efeitos secundários do tratamento, como os enjoos e as náuseas, apresentavam menos dores, dormiam melhor, sentiam-se menos cansados e tinham maior prazer nas suas actividades diárias.
Como é fácil de perceber, estes resultados podem ter implicações clínicas importantes, mas também, potencialmente, económicas, uma vez que estes doentes necessitaram de menos actos médicos para combater alguns dos efeitos secundários que normalmente acompanham o tratamento de quimioterapia.
Ao longo do artigo, embora de forma resumida, tenta-se explicar de que forma uma dimensão não física ou não material, como a espiritualidade, pode influenciar uma dimensão física ou material, como é o caso do corpo humano. As diferenças conceptuais entre religiosidade e espiritualidade são também abordadas, uma vez que cientificamente e a nível de investigação são considerados constructos independentes. Por fim, são sugeridas algumas medidas que os autores consideram importantes e que poderiam ser implementadas no sentido de ajudarem o doente a desenvolver o seu bem-estar espiritual, nomeadamente através da busca de sentido para a sua vida e para as actividades diárias que muitas vezes tomamos como garantidas e desprovidas de significância, mas também para a própria doença. Aqui, o Apoio Psicológico e os grupos de ajuda mútua são importantíssimos e deveriam ser mais desenvolvidos e apoiados.
Numa altura em que muito se tem falado sobre a importância ou não da religiosidade e da espiritualidade em contexto hospitalar, os dados agora disponibilizados por este trabalho de investigação podem assim dar mais um contributo para a discussão sobre esta temática.
Este trabalho, da responsabilidade do psicólogo João Paulo Pestana, contou ainda com a colaboração de mais dois investigadores, o Dr. David Estevens (Director Clínico do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio - Portimão - e o Professor Doutor Joseph Conboy, docente no Instituto Superior Dom Afonso III (INUAF), em Loulé.
in http://www.aoa.pt
publicado por Isa às 17:59
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